O estudo que esta semana veio a público, baseado em dados da Direcção-Geral de Educação, é deveras preocupante: «Alunos dos 1.º e 2.º anos têm mais 500 horas de aulas do que os do 12.º.» Em média, os alunos do 1.º ciclo têm uma carga lectiva anual de 1500/1620 horas contrastando com as 1035 horas do 12.º ano.
Pelos dados apresentados neste estudo, facilmente se constata que o maior peso do tempo de escola recai, exatamente, na camada mais jovem da população (do 1.º ao 4.º ano), contrariando e desrespeitando o normal ciclo de desenvolvimento da criança. Nesta medida, qualquer criança em início da escolaridade obrigatória passa mais tempo na escola do que qualquer jovem que se prepara para ingressar no ensino superior.
Sabendo que «mais tempo de permanência na escola não significa melhores resultados» porque persiste o Ministério da Educação em manter os alunos o dia todo na escola e alargar as Metas Curriculares, desadequando-as à idade mental dos alunos?
Deste paradoxo, que tem como base um Currículo deveras extenso, acrescido das chamadas Actividades de Enriquecimento Curricular, resulta numa total ausência de tempos livres, tão importantes e indispensáveis ao desenvolvimento global da criança.
Se juntarmos a esta carga diária as horas gastas em ATL’s – muitas vezes o prolongamento da escola – com os polémicos trabalhos de casa, mais facilmente compreendemos a desatenção/indisciplina nas aulas e o cansaço que, no final do dia e da semana, dominam por completo as crianças do 1.º ciclo.
Nesta lógica, que dizer ao papel da família nesta matéria? Segundo um estudo do Instituto de Educação da Universidade do Minho para as famílias portuguesas esta é «a situação mais cómoda e económica» apesar de reconhecerem que «se as crianças quiserem aprender ballet, natação ou futebol, ficam sem tempo para dormir».
Sendo assim, qual o espaço que resta, para que a criança possa ser criança e dar asas à sua criatividade e imaginação?
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«Viver Casteleiro», opinião de Joaquim Luís Gouveia
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