Ao longo destes anos de crise houve um aumento contínuo do fosso que separa as famílias e os indivíduos mais ricos dos mais pobres. A atenuação da desigualdade social que se vinha a patentear no início deste século viu recuar os seus indicadores o que fez com que a desigualdade social tenha vindo a aumentar.
Ao longo destes anos de crise houve um aumento contínuo do fosso que separa as famílias e os indivíduos mais ricos dos mais pobres. O agravamento das desigualdades sociais, patenteado na desigualdade de distribuição de rendimento, é um indicador preocupante. Fruto da crise e das políticas adoptadas pelo governo PSD/CDS que foram adoptadas, a atenuação da desigualdade social que se vinha a patentear no início deste século viu recuar os seus indicadores o que fez com que a desigualdade tenha vindo a aumentar.
O estudo sobre a «Desigualdade do Rendimento e Pobreza em Portugal», coordenado pelo Professor e investigador Carlos Farinha Rodrigues, que foi divulgado recentemente, regista que, aliado aos mais baixos níveis salariais, em termos europeus, Portugal apresenta elevados níveis de desigualdade salarial. A taxa de pobreza aumentou, apresentando valores idênticos aos do início do século, sendo que a taxa de pobreza das crianças e jovens subiu substancialmente. Isto devido à crise económica e às políticas de ajustamento que foram seguidas. Um terço da população portuguesa encontrou-se em situação de pobreza pelo menos durante um ano. A presente crise, tal como é referido no estudo supracitado, empurrou para situações de pobreza indivíduos e famílias que antes pareciam imunes.
As políticas de austeridade não conseguiram isentar os mais pobres, sendo que estes, em termos percentuais, apresentam a maior quebra de rendimentos face a toda a população (perderam um quarto dos seus rendimentos). A crise económica, a exclusão do mercado de trabalho, as alterações nas transferências sociais foram determinantes para o aumento da pobreza e para o agravamento das condições de vida das famílias mais pobres. De facto é notório que a fragilização social e o empobrecimento foram bastante agravados com o recuo das políticas sociais. E os mais pobres sentiram mais do que as classes médias ou ricas.
O mito de que foram as classes médias que mais sentiram a crise é errado. Os mais pobres, como sempre, foram os que mais sentiram e sentem, os efeitos da crise económica e das políticas de ajustamento que lhe seguiram. Numa sociedade em que todos se afirmam da classe média, devido a estigmas e preconceitos (na verdade um quarto da nossa população vive em situação de pobreza), continuamos a defender políticas que aumentam o fosso das desigualdades.
Quando nos deparamos com políticas diferentes, que não são diferenciadoras, incomodamo-nos. E porquê? No fundo ainda sentimos na pele os benefícios da estratificação social. Toleramos alguns acima de nós, que servem de aspiração para ascensão social, mas não queremos que os que se encontrem abaixo consigam chegar ao nosso nível. Compactuamos com serviços de saúde para todos mas gostamos que haja diferenciação para a nossa classe. Embora as classes sociais se tenham desfragmentado no final do século passado, assistimos a um permanente ensejo de subir.
Melhorar as condições de vida, de acesso à educação, ao acesso à saúde é legítimo de qualquer sociedade. O que não é tolerável é impedir e coartar as políticas sociais em detrimento de classes privilegiadas e protegidas. No fundo vivemos numa sociedade muito tolerante. Toleramos que os outros tenham direitos mas que não tenham acesso a tanto como nós, porque assim perde-se a posição superior.
O mérito da ascensão social foi uma conquista do Estado Social, onde todos poderiam ter melhores condições de vida. Neste momento o fosso está cavado. Os mais ricos, de um lado, do outro os que tentam sobreviver com a benevolência e caridade cínica dos mais ricos.
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«Desassossego», opinião de César Cruz
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