Falar de verão quente é recordar o verão de 75, quando, ainda muito jovem, pude assistir a um gigantesco fervilho de ideias pró e contra revolucionárias. A paixão das ideologias aqueceu tanto as tensões que algumas delas explodiram em violência. Mas o sopro do 25 de Novembro veio apagar os fogos mais intensos.

Eis senão quando, afogueados pela quentura do verão de 2016, percebemos, no panorama internacional, a Turquia onde foi exibida uma tentativa de golpe de Estado. A origem do movimento foi, tão só, misteriosa. O amadorismo patenteou-se e a trama acabou por fortalecer o poder instituído. O presidente, conhecedor da insurreição, regressou de férias, fez parar a deposição e deu início a uma incrível operação de limpeza. Em busca da pureza extrema, purificou forças armadas e policias, expurgou professores, juízes e, bem assim, todos aqueles que, ao seu olhar sombrio, se apresentavam como impuros. Em pose meritória conjeturou a reposição da pena de morte. Quer-me parecer que o calor do golpe piorou tudo. Na Turquia, instalou-se o terror e ninguém sabe hoje quanto tempo este país ficará a arder em lume brando.
Enquanto isto, por cá, o verão incendiava a agenda política com ameaças de sanções. Desta feita, a intimidação vinha de Bruxelas e os burocratas prognosticavam multas e queima de programas operacionais do Portugal 2020. Acabaram por aliviar espectros em meados do verão mas atacam de novo agora havendo fortes indícios de que tentarão pressionar a feitura do próximo orçamento. Ninguém saberá ao certo onde esta labareda europeia poderá chegar ou se acabará, mesmo, por fazer arder alguns dos nossos escassos recursos.
Em França produziu-se nova arremetida terrorista. Em Nice, no calor da festa, um camião assassino fez lembrar que os fanatismos estão longe de arrefecer.
Entretanto os termómetros alertavam para temperaturas nunca vistas e nos céus surgiram abundantes e negras nuvens de fumo. Ateou-se o continente, inflamou-se a ilha da Madeira e, na chama das conversas, esgrimia-se a indústria do fogo admitindo que esta não estará para colapsar o que significa que, para o ano que vem, ainda poderá ser pior.
Também arde, desde os inícios deste verão, o caso «Durão Barroso» que pegou fogo à Goldman Sachs, incendiou o Parlamento Europeu e, ao que parece, ainda está longe do rescaldo.
O desmoderado calor deste estio entrou em suspeição no caso da morte dos dois recrutas dos comandos que, sujeitos a exigências de ultrazelosos instrutores, faleceram sem que a guerra os vitimasse.
Da têmpera do verão de 2016, sobeja-nos, de bom, o aquecimento que o nosso futebol nos propiciou. Mas, infelizmente, a veemência da bola, já se foi matizando no embate contra a Suíça.
Expectamos, agora, o outono enquanto nos recompomos dos malefícios e logramos prerrogativas para as sequelas do exorbitante calor deste Verão.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
Amigo Capelo :
Diz-nos o sistema e os seus lacaios que vivemos no melhor dos mundos, e esse vigarista do Fukuyama, pago a peso de ouro, escreveu que tínhamos chegado ao – Fim da História – uma cambada de Sicofantas !
António Emídio