Na repartição fala-se no resultados das eleições que elegeram o general Craveiro Lopes presidente da República com o apoio de Salazar.
24 de Julho de 1951
Valente puxou assunto conspirativo:
– Então Ruy Luiz Gomes não era mais competente para presidente do que Craveiro Lopes ? Até o Quintão Meireles tinha muito mais competência para ocupar o lugar! As eleições foram uma farsa. Até as freiras foram votar! Só se foi por terem casado com Deus, porque as mulheres solteiras não têm direito a voto. Querem maior farsa que esta?
Tive de me calar, porque não podia abrir a boca naquele vespeiro, a não ser que fosse para apoiar o comunismo.
Se tivesse falado, diria:
– Com Luiz Gomes a presidente, a estas horas já a senhoras irmãs dos pobres que se fizeram esposas de Cristo, estavam mortas. Haveria plena liberdade de matar, como querem os anarquistas e os comunistas. Com Meireles eleito também os padres e jesuítas seriam fuzilados e atirados ao mar com as cabeças decepadas, e os católicos metidos em campos de concentração. Soltai o amigo Barrabás! Jesus ainda ontem ressuscitou Lázaro e há para aí muitos cegos que já vêem e muitos coxos que já andam escorreitamente. Mas quem manda? Barrabás, Barrabás! E também Estaline, Marquês de Pombal, Meireles, Ruy Gomes, Norton, Magalhães Lima, e outros salteadores.
Nota:
O professor Ruy Luiz Gomes, o contra-almirante Quintão Meireles e o general Craveiro Lopes foram candidatos à Presidência da República, na sequência do falecimento do marechal Carmona. Os dois primeiros foram os candidatos da oposição, Quintão Meireles pelas forças moderadas e Ruy Gomes com o apoio do Movimento de Unidade Democrática e do Partido Comunista. Craveiro Lopes foi o candidato da União Nacional, de Oliveira Salazar. O Supremo Tribunal de Justiça negou o acesso de Ruy Gomes à eleição e Quintão Meireles desistiu da mesma três dias antes da sua realização, por considerar não ver reunidas as garantias para a realização de um acto livre. Craveiro Lopes foi só às urnas em 22 de Julho de 1951.
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«Diário de Joaquim Salatra», por Paulo Leitão Batista
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