Os barulhos eram frequentes e, por isso, era necessário haver uma autoridade na aldeia, já que Guarda ou Polícia não havia. A Guarda só foi para Quadrazais quando já não era precisa, como diziam os quadrazenhos, isto é, quando a emigração levou a maioria dos quadrazenhos para outras terras bem longe. Por falta de população, de lá saiu uns anos mais tarde.

A figura do Regedor, herdada da Idade Média, servia para as emergências.
Havia morte ou facadas, o Regedor ia entregar o autor ao Sabugal ou chamava as autoridades para o levarem, guardando-o na sua «cadeia» caseira, um anexo ou arrecadação. Se eram só lambadas e ofensas corporais menores, guardava os contendores até decidirem se queriam ir para tribunal ou faziam as pazes. Acertado isso, soltava-os.
Na minha infância conheci dois regedores: O Tonho Zé Rabeco e o Augusto Sá.
O Tonho Zé Rabeco levava a função a peito. Havia barulho, aí vinha ele Fole abaixo de espingarda na mão buscar os desordeiros, tarefa em que era ajudado pelos cabos, o Sobrino e outros.
Não sei se tinha algum salário pelo ofício de Regedor. Se tinha, não devia dar para as sopas, já que ele se ocupava em criar cavalos para vender.
A mulher, parteira, também não tinha salário por fazer de parteira de muita mulher que dava à luz. Talvez recebesse alguma prenda ou, pelo menos, um: Bem haja!
Deveria comer frequentemente as sopas que nessas datas se faziam de pequenos pedaços de pão com açúcar.
O mesmo acontecia com o Sá, que era carpinteiro, não estando à espera do dinheiro de Regedor para comer.
Mas, se trabalhassem à comissão, estou certo que não precisavam de outro trabalho. Os barulhos eram tantos, sobretudo aos Domingos, que dariam para alimentá-los a eles, aos cabos e às famílias.
Ao contrário, depois que se abriu a França à imigração, com a saída dos quadrazenhos em massa, acabaram os barulhos e acabou o Regedor.
Acabaram também os doentes, clientes do Dr. Adalberto, que me disse um dia que, com a falta de barulhos e facadas, tinha um prejuízo avultado.
É provável que já se tenham encontrado todos numa roda no Além, onde os intervenientes já devem ter feito as pazes, e regedor e cabos sintam pena de agora estarem desempregados.
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