Damos a conhecer um artigo que o médico de Aldeia do Bispo, Francisco Maria Manso, publicou no jornal «Noticias Médicas», edição de Dezembro de 1974, Ano 11, n.° 236, sobre o combate aos carbúnculos.
Estão patentes na exposição «Uma obra com misericórdia», duas caixas com Termo Cautério, nome estranho dado aos objectos que se destinavam a queimar os carbúnculos que eram formações cutâneas malignas provocadas por bactérias que os animais domésticos disseminavam. É de notar que o Dr. Manso foi um dos responsáveis pela erradicação desta doença propondo à Assembleia Nacional a obrigação da vacinação animal como forma de acabar com esta doença.
Transcrevo um artigo de jornal de Dezembro de 1974 a comprovar o que afirmei.
Visite o salão de exposições temporárias do Museu Municipal de Sabugal e tire as suas conclusões.
OS MÉDICOS ESCREVEM
Noticias Médicas, Dezembro 1974, Ano 11, n.° 236
Não há reivindicações que valham às dos Médicos. Fomos nós que extinguimos, com as vacinações em todas as Aldeias e Escolas do País, as epidemias de Varíola, e vão terminando com a febre Tifóide, com a Difteria, com o Tétano, com a Tuberculose e é do meu tempo, a extinção da endemia Carbunculosa e cabe-me a recordação… do meu contributo para tal, nos anos 40.
Foram convocados, para aperfeiçoamento no Instituto Ricardo Jorge em Lisboa, uns 20 Subdelegados de Saúde.
O seu Director, Dr. Fernando Correia, propôs-nos um Tema para discussão, sobre: «como acabar com a “Endemia Carbunculosa” em Portugal?», até aí tratada a Termocautério, pústula a pústula, no ser humano.
Todos os Colegas expuseram várias sugestões: «queimar os suínos e animais mortos de Carbúnculo, ou enterrá-los, fazer guerra às moscas, etc.», uma vez que a transmissão ao ser humano, era feita pela picada da mosca, contaminada nos animais portadores da doença.
Eu tinha feito ao Instituto, a notificação de 150 casos de Carbúnculo humano, no Concelho do Sabugal, durante um ano e, tendo ficado para o fim, por ser o Concelho onde a endemia era maior, afirmei:
É possível sim, acabar com a “Endemia Carbunculosa” em Portugal.
«Se alguém possui 200 ovelhas e 20 vacas. Embora exista vacina, para administrar aos animais, não vacina as vacas, nem as ovelhas.»
Tem de pagar o transporte do Médico Veterinário, a Vacina, e por cabeça de ovelha e vaca. Fica-lhe mais económico, nada vacinar e correr o risco de alguns animais morrerem de Carbúnculo?!
Quanto levam os Colegas Médicos de Saúde Pública, por vacinar as pessoas nas áreas de cada Concelho?… Nem o transporte lhes pagam… a gratuitidade é absoluta?!!!
É pois simples: Dê o Estado “ajuda total” do custo ao Veterinário, e Legisle-se, em Despacho, tornar «obrigatória a vacinação gratuita dos gados», com pesadas multas, aos Lavradores que não compareçam, com os seus animais, às horas e dias marcados, para as vacinações, contra o Carbúnculo”.
Poucos dias depois o Governo assim Despachou e pouco a pouco, terminava em todo o País a «Carbunculose», tanto animal como humana, com a continuação anual e gratuita, das vacinas «anti-carbúnculo».
As reivindicações e opiniões Médicas têm de ser atendidas pelos Governantes, quando a experiência e o conhecimento prático das realidades, o demonstrem.
Francisco Maria Manso
(Contribuição na erradicação do Carbúnculo em Portugal)
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Romeu Bispo
(Vice-provedor da Santa Casa da Misericórdia do Sabugal)
Bom trabalho. Não haverá similar tratamento para os incendiários que constituem uma autêntica epidemia?