Estamos a poucos dias de ver chegar o grosso da nossa população emigrante. Que, como sabemos, vem maioritariamente de França. Ou DA França como nós dizemos pelas nossas terras do Interior. Em 2004 não foi possível vê-los chegar com ar triunfante, antes com um «foi quase» orgulhoso mas pesaroso. O mesmo que sentimos por cá, mas um pouco mais inflamado pela necessidade de afirmação nos países de acolhimento.
Este ano será diferente. Este ano podem vir inchados partilhar o orgulho com os que por cá ficaram. Depois da euforia inicial daqueles primeiros dias enquanto campeões europeus, resta agora o orgulho já mais sereno e contido. E as entrevistas do Éder. E os vídeos que vamos ainda apanhando pelas redes sociais.
Estamos numa onda de «somos os maiores e afinal nem nos interessam as sanções da União Europeia». Agora até voltámos a ser campeões no hóquei e até sentimos a necessidade de exultar tudo o que é bom, mesmo quando nem vimos o jogo do hóquei. Foi contra a Itália, né? Não consigo ver a bola e por isso não sou grande adepta. Mas ainda bem, que venham mais troféus. O próximo pode ser já nos Jogos Olímpicos. Era giro ver o Rui Jorge triunfar com sobras. Sem menosprezar as sobras. Desde o episódio Ederzito que as sobras fazem todo o sentido. Acho que nos 17 «eleitos» há muita qualidade.
Foi uma semana do caraças. Deixámos de ser tão coitadinhos. Tão pobrezinhos. Eu chorei. Por saber que estava a viver história. Foi quase aquela sensação que sentia quando perguntava coisas a familiares que viveram o 25 de abril. Pensava sempre: será que as pessoas tinham ideia de que aquele dia ia ficar nos livros de história do futuro? Uma amiga dizia-me, no dia 11 de Julho enquanto víamos o avião da Seleção aterrar, que os militares foram substituídos pelos jogadores de futebol. E é verdade. A escolta aérea com caças, a recepção de milhares, a ida ao Palácio de Belém… são os combatentes da nova era, num jogo que não é de vida ou morte mas que quase parece. E desta vez ganhámos nós, na terra da Torre Eiffel. Onde há tantos de nós. Agora que venham.
Cá estaremos. Prontos para os receber. Os nossos emigrantes e os reboques dos carros deles. Contentes como sempre, orgulhosos como nunca.
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«Calhaus há muitos… Seixo há um», crónica de Letícia Neto
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