Se morria algum adulto, à noite, depois de cear, reuniam-se amigos e vizinhos na que fora sua casa, à volta da lareira ou de braseira, se era Inverno, com muita gente na escaleira e na rua se a cumpanha era muita, já que, quem lá não ia, não era considerado amigo do defunto nem da família deste. Vinha a rezadeira e começava a coroa.

– Pela alma de fulano (o defunto), padre-nosso!
E os presentes rezavam o padre-nosso.
– Pela alma de sê pai e mãe, se já mortos, sê sogro e sogra, padre-nosso!
– Pela alma de sê primo e prima, mulher e marido, padre-nosso!
– Pelas obrigações do pai e mãe da mulher do morto, de sês tios e tias, primos e primas, padre-nosso!
– Pelas obrigações do compadre tal, da comadre tal, do parceiro tal, etc., etc., padre-nosso!
Quando já não havia familiares do defunto ou da esposa ou marido, conforme o caso, continuava:
– Pela alma dos vizinhos da rua de baixo e de cima, padre-nosso!
E a cumpanha, já farta de tanto padre-nosso, lá rezava o último.
Seguiam-se umas tantas admariês e findava a coroa com uma Salvé Rainha.
Ninguém escapava nas intenções da rezadeirê. Não era preciso ser associados da Irmandade das Almas para terem direito a reza pela sua alma, ao contrário das missas do Aniversário, a 13 de Março, que só incluíam os irmãos.
E isto repetia-se por mais oito noites, sempre em casa do defunto.
Havia duas rezadeirês na aldeia – a ti Beda e a Nunciação Rezadeirê –, esta um pouco mais nova que aquela. Os responsos eram os mesmos, que devem ter aprendido pela mesma cartilha. Repartiam entre si este ofício, conforme os familiares do defunto escolhiam.
Era serviço não pago. Que fosse pela alma do defunto!
Mas os familiares do defunto presenteavam a rezadeirê, normalmente com uma saia da defunta ou com um casaco do defunto, que serviria para o homem da rezadeirê.
A ti Nunciação Rezadeirê deve ter rezado a coroa à ti Beda. Mas, quando aquela morreu, não havia quem lhe rezasse a sua coroa.
Acabou a coroa. Foi substituída por um ou mais terços rezados, não já na casa do morto, onde deixou de ser velado, mas sim numa casa adaptada a casa mortuária, em frente à igreja, no dia da morte, e na igreja nos restantes dias.
A rezadeirê passaria a ser qualquer das pessoas presentes, em geral, pessoa que costumasse cantar na igreja durante as missas.
Notas
Admariê – Avé Maria.
Cear – jantar.
Coroa – rezas durante nove noites por alma do defunto e suas obrigações.
Cumpanha – acompanhantes.
Rezadeirê – mulher que rezava as coroas.
Sê – seu.
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