Este deve ser o Postal mais pequeno que jamais escrevi. Nem os aerogramas feitos à pressa eram tão pequenos. Ver nota no final…
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Para mim, a imagem de TV da semana é a que publico com este postal. Visto só assim, à pressa, sem mais informação, parece que o Ronaldo perdeu a cabeça e sem mais aquelas vai de agarrar no microfone e atirá-lo para o lago.
Mas esta história é bem maior e até devia ser pedagógica. Explicando: o micro é da CMTV («Correio da Manhã»); este órgão não provocou o Ronaldo ali naquele momento com a pergunta ingénua do chamado «repórter». Esse ali apenas perguntou se Cristiano estava preparado para o jogo dessa tarde – coisa mais ingénua, não é?
Mas é que a história é bem mais longa. Não! O gesto do atleta agarra muito – mas muito – mais atrás.
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Conheço dois pontos em que a história agarra – e que me dizem que o Ronaldo nem estava maluco e nem sequer abusou do dinheiro e do poder.
Ou seja: acho que desta vez não foi um gesto de puto agora mimado e com dinheiro a mais. Não: Ronaldo pode ter razões para não se deixar amarfanhar. E há razões para ele ali ter perdido a calma e atirado fora o objecto…
As duas que conheço, ambas do «CM» são:
– Uma infeliz e desumana reportagem da ‘CMTV’ (não a vi nem a encontro na net, mas pessoas em quem confiam dizem que assim foi). De que tratava essa reportagem? Muito simples: do facto de Ronaldo ter perdido o pai aos dez anos (isto nada tem de mal – foi uma infelicidade para o miúdo); do facto de ter passado muito mal enquanto jovem (nada de mal enquanto matéria informativa); e do facto (esse, sim, totalmente desumano e descabido) de o pai ter sido alcoólico e ter morrido por isso mesmo. Que boa disposição que isto dá a um atleta de alta competição em plena batalha desportiva! É que ao contrário do que o ‘CM’ e a ‘CMTV’ pensam, isto não vale tudo;
– Outra infeliz reportagem (do jornal e da TV do ‘CM’) que já deve andar há muito a deixar o Ronaldo de cabelos em pé: aquelas célebres imagens das viagens dele a Marrocos e as repetições da imagem dele ao colo do amigo… Imaginam? É que não vale tudo. É que não se pode tudo para aumentar vendas e audiências. É que há coisas bonitas a respeitar, como a ética e a dignidade. Sabiam?
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Resumo a minha ideia: o microfone deitado fora é mesmo um símbolo…
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Nota
Bem sei que a maior parte das pessoas que me lêem nem imagina o que eram os aerogramas. Também não digo: perguntem a alguém mais velho e que tenha estado na guerra colonial. Ficam logo a saber tudo…
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«Postal TV», por José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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