No Café Literário, junto à Igreja de São Francisco na Covilhã, decorreu uma tertúlia escutista organizada pelo Núcleo da Fraternidade Nuno Álvares local, com o apoio do Município covilhanense, sendo orador convidado Francisco Alves Monteiro, um beirão natural da Bismula (Sabugal), dirigente escutista da Região de Setúbal, com cinquenta e três anos de atividades no movimento e autor do Livro «História do Escutismo em Setúbal e na Região».

Com elevada assistência, contou-se com a presença do Vereador da Cultura, Jorge Torrão, a Directora do Departamento da Cultura, Telma Madaleno, o Núcleo da Fraternidade da Covilhã e do Fundão, a nível pessoal o Chefe Honorário Regional António Duarte Bento, os Escuteiros do Agrupamento 120 do Fundão, do Agrupamento 1335 de Aldeia de Joanes, dos Agrupamentos 20 e 1304 da Covilhã, o Chefe do Departamento Regional e um jovem ex-assistente, que foi nomeado e exonerado pelas mesmas normas estatuais e regulamentares, o que não deixa de ser um paradoxo. Estranhamente, existindo diversos Agrupamentos na Região da Guarda, não apareceu qualquer assistente no activo.
O Grupo Musical Quarteto Tubas ofereceu os primeiros acordes musicais na abertura desta palestra de debate e reflexão escutista.
O Dirigente Francisco Monteiro fez uma retrospectiva histórica do Movimento Escutista da Região de Setúbal, com documentos e imagens até aos nossos dias. Nasceu no ano de 1934, com os Núcleos de Setúbal e Barreiro a pertencer à região de Lisboa. Foi crescendo e em 1975 tinha quinze agrupamentos com 645 associados. Presentemente têm cinquenta agrupamentos e cinco mil escuteiros.
A partir de 26 de Outubro de 1975 foi eleita a Primeira Junta Regional de Setúbal, coincidindo com a tomada de posse, controversa e conturbada, da ordenação episcopal D. Manuel Martins, primeiro Bispo da recém – fundada diocese.
A seguir ao 25 de Abril, o Escutismo na Região de Setúbal sofreu diversos ataques, tentativas de assalto às suas sedes, destruição de material, eram apelidados de serem a «GNR da Igreja e um movimento da Mocidade Portuguesa». Os Escuteiros saíram para a rua, para as praças, culminando na Feira de Santiago onde construíram um acampamento modelo, dormindo e comendo fazendo fogos de conselho diários, mostrando aos milhares de visitantes a essência do movimento escutista. Também realizaram inúmeras acções de índole social e humanitária.
Como autêntico timoneiro, D. Manuel Martins foi a pessoa certa no momento certo para dar o pontapé de saída no Escutismo Católico Setubalense. Sempre próximo, sempre presente em inúmeros momentos importantes e menos significativos da vida do movimento. A sua presença era assídua nos agrupamentos, na Junta Regional. Muitas intervenções se podem citar, deixo esta: «A Igreja de Setúbal deve muito ao Escutismo, desde logo no serviço aos jovens, que são o seu melhor presente e a garantia do seu melhor futuro.»
O orador salientou que a Região de Setúbal foi pioneira, no Escutismo Católico Feminino, na eleição da primeira mulher como chefe regional, na aquisição de uma sede própria e de um Parque de Escutismo na Serra da Arrábida, (GEADA), que compraram com o esforço dos escuteiros, das famílias e amigos, sem qualquer outros apoios. Foi também a primeira a editar um Disco Escutista Português, com o título «Como cantam os Escuteiros», gravado nos estúdios Rádio Triunfo.
Seguiu-se um caloroso e apaixonado debate onde foram abordados interessantes problemas, como por exemplo a deficiente assistência religiosa, ressalvando-se algumas excepções, como exemplo, a nível da Guarda, o Padre António Nunes Sanches e, em Setúbal, o Padre Alfredo Brito.
Que resposta terá o CNE para aceitar outras confissões religiosas no movimento? Referiu-se que com os actuais estatutos não é possível. Este tema acarretou uma longa discussão com algumas opiniões divergentes. O CNE é movimento de Igreja e a Associação de Escuteiros de Portugal recebe nas suas fileiras elementos católicos e não católicos.
Foi igualmente salientada a acção dos Escuteiros na vida pastoral das comunidades cristãs nem sempre é bem aproveitada.
Falou-se também do crescimento nas zonas litorais, caso de Setúbal, e do decréscimo no interior do país, cada vez mais desertificado e com sérios problemas demográficos, nomeadamente o envelhecimento da população. É motivo de forte preocupação dos dirigentes do CNE da Guarda, embora no contexto da FNA (Fraternidade Nuno Alvares), possa existir uma janela aberta ao crescimento com o ingresso de antigos escuteiros aposentados da vida activa que possam estar disponíveis para o voluntariado católico, ajudando as comunidades locais e a própria Igreja.
Duas jovens escuteiras, uma pioneira e uma caminheira, fundamentaram a sua adesão ao escutismo pelo facto de ser um espaço de partilha, de entreajuda, de amizade e de convívio. Francisco Monteiro recordou a comovente história de um escuteiro do Orfanato de Setúbal que, no hábito de trocar recordações no final do acampam
ento (no caso o X Acampamento Nacional de Avintes), nada tinha para dar. Como desejava a boina de um escuteiro inglês, lembrou-se então de dar em troca uma bonita etiqueta cosida na sua manta de agasalho com um veado e a seguinte inscrição: «Fábrica dos Lanifícios da Covilhã.» O súbito de sua Majestade ficou encantado e aceitou a troca.
O orador na parte final citou algumas palavras que o Prof. Hermano Saraiva pronunciou nas celebrações dos sessenta anos do Escutismo em Setúbal: «O êxito de um grupo é sempre o resultado do talento de um chefe. Ora, o Chefe Escuteiro é uma pessoa que tem de ter um conjunto de qualidades excepcionais, prudência, silêncio, generosidade, firmeza, capacidade inventiva, paciência, tempo livre, renúncia, desinteresse…»
Os trabalhos desta apresentação, debate e reflexão concluíram-se com um Moscatel de Setúbal e de alguma doçaria regional, num espaço de convívio e de aprendizagem, na certeza de que valeu a pena estar nesta tertúlia escutista, um movimento onde homens e mulheres têm lugar com o lema emblemático do seu Fundador Baden-Powell: «Procurai deixar o mundo um pouco melhor de que o encontraste».
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
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