A tecnologia tem isto de fantástico que enquanto o diabo esfrega um olho é capaz de resolver os problemas que ela própria criou. Hoje, centenas de taxistas manifestaram-se contra a Uber, e têm toda a razão. A Uber é uma má ideia: o que está errado com a Uber, para além de querer impor à força o seu modelo, desafiando permanentemente as soberanias nacionais, é o próprio modelo de negócio.

Vejamos: o chouffer da Uber compra o carro, paga IVA e impostos ao seu país, trabalha horas e horas e horas para uma mesada correcta. A Uber não faz nada: põe em contacto o cliente e o chouffer – pouco mais – e recebe em troca 20% de cada corrida. Mas quando lhe apetece muda a tarifa da corrida (muito elásticas são as tarifas – ai dos clientes que não estiverem atentos!). A Uber não paga impostos.
Apesar de tudo, a vida corria bem à empresa da Google: 700 milhões levantados em bolsa. É muito dinheiro para gastar no lançamento da marca e pressionar governos. O esquema até parecia estar a resultar: milhares de clientes e centenas de choufferes no mundo.
Porque a APP é gira, porque é fixe saber quanto tempo o carro vai demorar, porque é possível dar uma nota ao chofer, porque se pode pagar o serviço com o smartphone, e, last but not least, porque em numerosas cidades os clientes estavam insatisfeitos com o serviço de táxi (negligência na apresentação, viaturas por vezes muito usadas, abusos de rotas com os turistas, etc.)
O problema da Uber – ninguém parece ter reparado nisso, hoje, na imprensa portuguesa – chama-se Arcade City. É uma start-up, também ela americana, que oferece as mesmas funcionalidades que o aplicativo da Uber, só que a tecnologia utilizada – Blockchain – é mais revolucionária que a da Uber e acaba de vez com as comissões aos «chulos». Quem trabalha e quem paga impostos recebe a totalidade do fruto do seu trabalho.
É o bom senso e a ética a triunfar. Em poucas semanas, 3.000 choufferes americanos juntaram-se à Arcade City. Os dias da Uber estão contados.
Resta desejar que a Google, dona da Uber, não compre a Arcade City!
Dito isto, as questões de fundo mantêm-se. Devem os transportes públicos (incluindo os táxis) ser regulamentados ou totalmente liberalizados?
Queremos as nossas cidades cheias de carros (por muito eléctricos que venham a ser) ou privilegiar o bem estar dos peões?
A Uber teve o mérito de nos alertar para os perigos que aí vêm. Por trás da Uber está um modelo de sociedade, está o tratado transatlântico, está a privatização da justiça nos tribunais arbitrais. Não é por acaso que jornalistas franceses (que não são perigosos esquerdistas) lançaram recentemente um abaixo-assinado contra a «uberização» da Europa.
Nem tudo o que é moderno e americano é bom. É preciso por vezes parar, escutar e olhar para o mundo que aí vem.
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«Margem Esquerda», opinião de João Luís Pereira
Acho que devem ser factuais nas análises e nas opiniões.
Lá por fica bem e é bonito atirar pedras contra gigantes da indústria tecnológica que a Europa teima em não conseguir desenvolver devido à mentalidade retrógrada, não quer dizer que tudo o que se lê seja verdade.
A Google não é dona da Uber. É sim uma das várias empresas que investiram na empresa.
Entre os investidores da Uber encontram-se a Microsoft, Jeff Bezos (dono da Amazon), o fundo soberano do Qatar, múltiplos investidores em nome individual entre outros, mas a Google é que é dona.
A Google investiu 258 milhões de dólares em 2014. A empresa Uber encontra-se avaliada em 40 Biliões de Dólares, ou seja é dona de 0,65% da empresa.
A União Europeia e Portugal que legislem o necessário para que a Uber e similares paguem os impostos que achamos justos. Agora, ceder ao lobby dos taxistas e perpetuar uma indústria corrupta e que tão má imagem dá ao nosso país, é que não me parece o mais correcto.
Quem de nós não ouviu já a história do turista que apanhou um taxi no aeroporto da Portela e que para chegar a Cascais teve que ir pela Ponte Vasco da Gama e voltar pela Ponte 25 de Abril? Na Uber isto não acontece porque o cliente é informado à partida da rota ideal e do custo estimado.
Sempre disse, se me derem um serviço nos táxis similar ao da Uber, sou indiferente quanto ao que presta o serviço. Provavelmente escolheria táxi porque existem muitos mais que condutores da Uber.
A resposta à Uber não é manif’s. É sim por os táxis a utilizar aplicações similares à Uber mas para táxis, como já app MyTaxi.
Não vejo os CTT a chorar porque deixámos de enviar cartas e passámos a utilizar o email.
Quem não se adapta e evolui morre. Chama-se teoria da evolução.
Não percebo porque é que os táxis são excepção.
Não vale a pena lutar contra fantasmas! Quando a FNAC abriu em Portugal, 80% do espaço era para livros e discos. Hoje, nem 10% é ocupado com estes produtos…
O problema é que já vejo taxistas a defender que a UBER é boa, desde que os carros utilizados sejam os atuais taxis!…
Mas o que ganha o consumidor com isso?
Nada, pois as tarifas serão as mesmas, só que parte da receita do taxista vai para a UBER (chame-se ela como se chamar…)
José Jorge Cameira, obrigado pela sua opinião. Não é a qualidade do serviço que está em causa.
Quanto ao tarifário aplicado, o dos táxis é regulamentado (se houver abusos pode queixar-se), enquanto o da Uber é oficialmente elástico. Mas, como percebeu certamente, as questões que que Uber levanta vão muito para além de uma simples equação qualidade/preço.
Senhor João Luís Pereira :
É esperançoso ver alguém que compreende o Mundo em que vive…
António Emídio
Não estou nada de acordo com esta opinião. A Uber melhora o atendimento, a qualidade e o preço do serviço. Nem há dinheiro no transporte. Tarifas abusivas é impossível como nos outros. Por enquanto não estão constituídos em lobbies ate com cheiro a politica, como acontece com os táxis. Se há ilegalidades no foro fiscal, então as autoridades tributarias nacionais e de Bruxelas que actuem. E viva a Uber !