Que os quadrazenhos tinham vocação para o negócio é facto que ninguém contesta. A vida tinha-os ensinado. Mas alguns usavam meios anedóticos para impingir a mercadoria às freguesas. Um desses era o X.

Vinha a correr pela rua fora, lobrigava um balcão ou uma janela aberta e vá de atirar com alguma coberta para dentro de casa. Continuava o seu caminho apressado.
Vinha a dona da casa à janela e lá voltava para trás o quadrazenho.
– Desculpe o incómodo, minha senhora! É que vinham aí os guardas atrás de mim! Tive de desfazer-me dessa coberta para não ser apanhado com a boca na botija.
Já agora, veja a senhora essa lindeza de coberta. Quanto pensa que custa?
– Não preciso, senhor, obrigada!
– Mas veja bem, que não paga nada por isso!
Desdobra-a o contrabandista.
– Vé! Não lhe dizia eu que era uma beleza! Vá, diga lá a senhora quanto vale!
– Não preciso, obrigada!
– É só um palpite! Diga lá quanto vale!
– Para aí uns cinquenta mil réis! Que bonita é ela!
– Pois, minha senhora, guarde-a por vinte mil réis. É sua.
E empurrava-lha para as mãos, e a senhora a querer libertar-se dela. Até que acabava por ficar com a colcha.
Nesse dia o quadrazenho já se tinha estreado. Vinha satisfeito ter com outro colega com quem vendia a meias, isto é, o produto da venda, tirado o custo da mercadoria, era dividido por ambos.
O mesmo acontecia frequentemente com três ou quatro ambulantes de fazenda portuguesa que se encontravam na mesma terra alentejana ou noutra parte do país.
Para não se atropelarem a ver quem vendia a quem, faziam o acordo de vender a meias.
– Vai tu por aqui, outro por ali e eu por acolá.
E assim batiam o mercado mais depressa. Se o negócio corria bem, festejavam com uns copitos. Se não, outro dia seria melhor!
Notas:
Vé! – vê!
Tinha estreado – iniciara o negócio.
Leave a Reply