A Confraria do Arinto de Bucelas, concelho de Loures, organizou um jantar de confrades a fim de se degustar o bucho raiano acompanhado por vinho Arinto. A Confraria do Bucho Raiano também marcou presença.
Foi no dia 19 de Fevereiro, pelas 20 horas, que os confrades do Arinto, e alguns representantes da Confraria do Bucho Raiano do Sabugal, se juntaram no restaurante Raposo, em Bucelas, para um jantar de bucho acompanhado por morcelas e farinheiras vindas do Sabugal.
Os confrades do Arinto reúnem periodicamente em jantares de convívio, e nesta edição a confreira do bucho raiano Maria de Deus Ferreira, natural de Malcata e casada com um ilustre confrade do Arinto de Bucelas, decidiu propor à direcção da confraria a realização de um convívio em que o rei bucho do Sabugal viesse à mesa.
A Confraria do Arinto convidou a confreira honorário do Bucho Raiano, Professora Maria Máxima Vaz, de Vila do Touro, para vir ao jantar e fazer uma prelecção explicando aos bucelenses o que era o bucho raiano e quais as tradições que lhe estavam associadas.
Os cerca de 40 convivas, entre os quais cinco confrades do bucho, deliciaram-se com o repasto, que regado com o divinal vinho arinto.
A prelecção de Maria Máxima Vaz
Em momento prévio ao jantar, Maria Máxima Vaz cativou a atenção dos convivas quando usou na palavra para explicar como se confeccionava e se servia o bucho tradicional que era produzido em casa das famílias de lavradores que matavam o porco e dele tudo aproveitavam para se alimentarem durante o ano.
O bucho era precisamente um exemplo desde espírito de poupança e de aproveitamento que antigamente, em tempos de escassez, existia. A carne que ficava agarrada aos ossos era precisamente a base para a confecção do bucho. Esses ossos eram partidos em pequenos pedaços e colocados em vinha de alhos e depois depositados no estômago do porco (daí o nome bucho) e colocados no fumeiro. No domingo gordo as famílias reuniam à volta da mesa para comerem o bucho cozido ao lume na panela de ferro, acompanhado por grelos de nabo e batatas cozidas.
Maria Máxima Vaz falou ainda nas diferentes confecções do bucho, que variavam de terra para terra no concelho do Sabugal. Este concelho raiano tem duas raias, e cada uma tem tradições, modos de ser, de pensar e de agir diferentes.
Uma raia é formada pelas terras do concelho que se situam na margem esquerda do rio Côa. Este curso de água era originalmente a fronteira de Portugal com o reino de Leão e os povos da margem esquerda eram quem estava na primeira linha de defesa, vigiando a raia e sofrendo amiudadamente com os conflitos e as incursões militares no nosso reino.
Mas com o rei D. Dinis o território português alargou-se para lá do Côa deixando o rio de ser a fronteira. Com o Tratado de Alcanizes a faixa de terreno chamada Riba-Côa, constituída, entre outros, pelos antigos concelhos do Sabugal, Alfaiates e Vilar Maior, passou a fazer parte de Portugal e a fronteira avançou cerca de 20 quilómetros para lá do rio. Formou-se assim uma nova raia, agora constituída pelos povos que viviam na margem direita do rio que passaram a estar na primeira linha da defesa do país.
Em cada uma dessas raias sabugalenses há povos diferentes em termos de usos e tradições, e até de temperamento.
Essas diferenças, disse Maria Máxima Vaz, são até visíveis na forma tradicional de fazer o bucho caseiro. Enquanto que na margem esquerda do rio o bucho era unicamente composto pelas carnes agarradas aos ossos, na marguem direita já era uso juntar-lhe a carne do rabo, orelha e cabeça do porco.
De qualquer forma, rematou a confreira honorária, todo o bucho do concelho do Sabugal é bom e saboroso, porque o segredo está no tempero, que em ambas as raias leva pimentão espanhol que lhe confere um travo especial e lhe garante a conservação dos sabores das carnes que o compõem.
plb
Leave a Reply