A propósito do próximo congresso do PSD e da única candidatura (ou candidato) à liderança do partido. E porque esta candidatura (ou candidato) se apresenta (ou representa) sob o slogan de «social-democracia sempre!»

Num tempo em que muito se fala na ausência de ideologias, este slogan requer alguma análise.
O espectro político de há uns tempos atrás tem-se diluído no que diz respeito ás matrizes ideológicas dos partidos e nos partidos. Principalmente nos dois maiores – PS e PSD.
Sem querer fazer de historiador, o facto, é que a génese destes dois partidos é distinta. Enquanto o PS transporta na sua génese uma história anti-fascista, com prisões, mortes, clandestinidade e exílio (a sua formação foi fora do país), vincado por uma forte consciência ideológica, o PSD, surge com a revolução de Abril (e por causa dela). Formado por quadros do estado e funcionários públicos e uma raiz mais popular (daí o primeiro nome, PPD, Partido Popular Democrata). É, essencialmente, um partido estatista. Em muitos aspectos é inconfundível dos estados.
Contudo, a social-democracia, não é uma qualquer abstracção. É uma doutrina política e social, com princípios definidos, normas e concepções da sociedade e do estado. Mas neste PSD é uma abstracção. Porque os partidos sociais democratas na Europa correspondem ao partido socialista em Portugal. Daí esta característica portuguesa: os dois maiores partidos representam o mesmo espaço político. E isto tem funcionado como um íman, ora se atraem, ora se repelem. O eleitorado e os resultados eleitorais demonstram-no. É neste espaço que se movem a maioria dos eleitores.
Regressemos à ideologia. Porque se tornou o PSD, sendo a sua matriz ideológica de esquerda, um partido de direita?
Pela lógica: não havia espaço à esquerda. Só à direita. O CDS foi sempre um partido indefinido. Nunca foi verdadeiramente um partido democrata cristão. Porque esta essência era partilhada tanto pelo PSD como pelo PS. Também nunca conseguiu ser um partido liberal e muito menos conservador. Esta indefinição tornou o CDS um «partido muleta». Verdadeiramente é uma ala do PSD.
Assim, o PSD, foi-se tornando, não como um partido ideologicamente definido, mas pragmático, quer no seu crescimento, quer na sua matriz ideológica. Da matriz ideológica do partido de Francisco Sá carneiro já nada resta. E foi com Pedro Passos Coelho que, o que restava, acabou. Passos Coelho não é um social-democrata. É ideologicamente estatista. É a relação do estado com a economia que o move. Não a matriz social-democrata.
Mas percebo o slogan que encabeça a sua candidatura. Por um lado, procura atrair os ideologicamente comprometidos por outro, procura esconder o que foi e o que é a sua governação, quer no governo do país, quer no governo do partido.
O slogan é um engodo.
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«A Quinta Quina», opinião de Fernando Lopes
Fernando :
Mais claro e correcto não podias ser !
António Emídio