Inevitavelmente, os meus parabéns a Marcelo Rebelo de Sousa. Afinal, ganhou uma eleição! E em democracia é assim. Uns ganham outros perdem. Contudo, não deixa de me vir à cabeça a tal frase de que, quem vende sabonetes, também «vende» presidentes. Juntando a isto, e a outros jeitos, o jeito de Marcelo, a eleição foi limpinha.

1 – Passamos a ter um presidente bem diferente daquele que agora abandona Belém. O homem é bem mais divertido, mais comunicativo. Politicamente, tenho as minhas dúvidas de que seja muito diferente. Mas daqui, o benefício da dúvida.
Partindo daqui, façamos um leve exercício sobre o que foi e os estragos que causou. A tarefa era difícil. Todavia houve um «laissez faire, laissez aller, laissez passer» e um certo romantismo.
Da parte do PSD e do CDS, a posição foi a de fazer de conta que não tinha um candidato (e acredito que não tinha) parecendo que tinha. Marcelo, que se apresentou como o candidato natural desse espaço político e não sendo, de forma alguma, o candidato de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, obrigou-os a dar-lhes o apoio num «nim».
Da parte do PS, a não definição e a falta de vontade política para apresentar um candidato próprio, quer do PS quer do espaço da esquerda, resultou numa derrota. O não ter oficialmente um candidato, atenua, mas não o iliba da derrota.
Sampaio da Nóvoa, que se apresentou como candidato abrangendo o espaço da esquerda (ou do centro esquerda) ficou órfão do apoio do PS, mais ou menos velado, a partir do momento em que Maria de Belém se apresentou. E esta sim, é um caso de estudo e análise. Porquê a candidatura de Maria de Belém? O que acrescentava à de Sampaio da Nóvoa?
Não sei se a candidatura surgiu por vontade própria. Se assim foi, respeito a decisão individual. Até porque acredito que esta eleição (a de Presidente da República) é uma decisão pessoal. Mas se Maria de Belém foi «empurrada» para esta eleição, e por uma qualquer facção do PS, mostra uma absurda e irresponsável posição política. Porque divide um partido. Porque divide uma área. porque estava condenada a não ganhar.
Acredito que Maria de Belém estivesse convencida que o PS lhe daria o apoio oficial.
O PS calou-se. Deixando à deriva Maria de Belém. E deixando isolado Sampaio da Nóvoa. O resultado foi o que se viu. Os outros candidatos não passavam de uma ideia romântica e até naïf. Uns por pergaminhos partidários. É o caso do PCP. Este, enquanto partido, verificou que nesta eleição, a fidelidade de voto já não é o que era. O BE, partindo dessa ideia romântica (ainda para mais com uma mulher), lança uma candidatura para confirmar a sua existência. As outras candidaturas são, não só, românticas, mas puramente naïf.
Os estragos que esta eleição causou são mais visíveis à esquerda. Da parte da direita é como se nada se tivesse passado, não deixando de partilhar a vitória. Mas do lado da esquerda, esta eleição, vai deixar mossa.
No final, deixo uma pequena observação. É interessante verificar que Cavaco é Presidente devido à divisão da esquerda. Quando Sócrates lançou Soares, não contra cavaco, mas contra Manuel Alegre. Comentou-se, na altura, que Sócrates preferia Cavaco. Agora parece que se repete. António Costa não apoiou ninguém, será que prefere Marcelo?
2 – Não entendo a Europa! Nada faz quando na Polónia se coartam os meios de comunicação. A Hungria está a transformar-se numa ditadura.
Constroem-se muros. A Dinamarca confisca bens a refugiados. A Suécia expulsa… E o que faz a Europa? Manda vir com os gregos que não fiscaliza a fronteira e, a maior das preocupações, é o projecto de Orçamento de Estado de Portugal! A União Europeia está a esboroar.
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«A Quinta Quina», opinião de Fernando Lopes
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