Por não ter seguido os conselhos da mãe, foi um quadrazenho comido por lobos no caminho para Malcata, onde namorava uma malcatenha.

Era já noite cerrada e resolve ir a Malcata ver a namorada, como era costume ser o namoro em casa da rapariga. A mãe aconselha-o a não ir nessa noite, muito escura, em que poderiam saltar-lhe os lobos ao caminho.
– Não tenho medo dos lobos! – responde o filho.
– Olha que podem ser muitos e tu não te consegues defender!
Finge o filho ponderar o perigo e diz à mãe que não iria nessa noite a Malcata.
Vai à loje, faz um boneco de palha a imitar uma pessoa, mete-o na sua cama, fingindo que era ele, e segue para Malcata.
A mãe vai ao quarto do filho, vê um vulto debaixo das mantas, pensa que é o filho e deita-se descansada.
Já perto da Estrejançola saem-lhe os lobos ao caminho. Deve ter-se debatido com eles ou até fugido. Mas deviam ser vários lobos.
No dia seguinte, como o filho se não levantava, vai a mãe chamá-lo ao quarto. Não obtendo resposta, levanta as mantas e verificou o logro em que caíra.
Meteu-se a caminho de Malcata e do filho só encontrou os sapatos.
Estes foram dependurados no carvalho mais próximo, donde ninguém ousou retirá-los por largos anos, para que servissem de memória e aviso.
Carvalho esse que, dizem, não cresceu mais, mas também não secou. Acabou cortado, há muitos anos, às mãos do João Perricho.
E vêm os ambientalistas a querer incutir nas pessoas que os lobos não fazem mal aos humanos! Na cidade, recostados em bons sofás, a alguns deles dá-lhes para filosofar sobre coisas que não conhecem senão de livros. Vão para as aldeias, embrenhem-se nas serras à noite e verão a realidade.
– Que se criem espaços para a natureza selvagem! – aconselham os governos, com exigências.
Quem paga os rebanhos mortos e algum burro ou cavalo deixado a pastar junto de matas?
– O Estado paga! – dizem.
Mesmo que pague, tarde e a más horas, como é seu costume, acaso são os moradores que têm de alimentar lobos? Gostariam os ambientalistas de ficar sem um animal de sua estimação, ainda que viessem a pagar-lho?
E os sustos das pessoas, com medo de encontrarem algum lobo, quem os paga?
– Os lobos não comem humanos!
Vão para lá e verão se comem ou não comem!
Por que andavam ceguinhos e mendigos de terra em terra com lobos empalhados ou só com a pele do lobo a pedir esmola?
Porque sabiam que as populações odiavam os lobos que lhes comiam os rebanhos.
Não comiam os humanos? Leiam histórias como esta.
Mais, por que colocavam os quadrazenhos, em tempos idos, cancelas às entradas da aldeia?
Porque assim poderiam impedir os lobos de entrar nela e fazer das deles.
Nota:
Loje – baixos da casa.
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