À medida que o Natal se aproxima parece que dentro de nós desperta algo adormecido que nos leva a olhar para os outros de forma diferente. É estranho mas acontece: Nesta altura estamos mais sensíveis a quem nos rodeia. Das várias músicas de natal, escolhi esta do Coro de Santo Amaro de Oeiras.

À medida que os dias do ano vão passando e fazem o contador dos dias que faltam ir diminuindo o número de dígitos, nota-se na generalidade das pessoas, sejam elas dominantemente urbanas ou rurais, uma ansiedade crescente.
Quando aquele contador imaginário se reduz a um digito, as atitudes são ainda mais intensas como que acompanhando uma suposta contagem decrescente que culminará no dia de natal.
O natal é uma daquelas datas que não deixam ninguém indiferente, desde os mais humildes aos mais abastados, dos citadinos aos do mundo rural, e até mesmo no contexto associado à maioria das religiões. Mesmo para estes últimos e principalmente quando convivem com outros, também o natal é sempre especial.
É uma época em que parece que todos se mostram mais unidos e generosos com os que menos têm. E isto verifica-se quer na cidade quer no campo, sendo porem acertado referir que na cidade esta generosidade temporal é mais visível, pois durante o resto do ano, se existe é com muito menor intensidade.
Nas aldeias mais recônditas, embora o sentimento seja de idêntica natureza, a verdade é que ele não conduz a manifestações temporalmente localizadas, já que, por norma as comunidades conhecem-se e ajudam-se durante todo o ano e não apenas no natal
Talvez tenha sido por isso que o poeta produziu o verso que todos conhecemos “O NATAL É QUANDO UM HOMEM QUIZER”.

Mas certamente que existem diferenças significativas entre a forma como o Natal é vivido nas comunidades rurais e nas cidades. Desde logo uma diferença fundamente tem a ver com os símbolos de base associados: No campo falamos do presépio, do menino jesus, etc. Na cidade, embora por vezes e principalmente nos templos ainda exista o presépio, a generalidade adoptou como símbolo para o natal quer árvore de natal quer o pai natal.
À parte a simbologia que por vezes é importante, quer a linha citadina quer a rural perseguem valores idênticos embora por vezes tendo por base contextos diferentes. Ambos entendem o Natal como a festa da família, como o momento em que todos se juntam e convivem.
Hoje, embora tenhamos as lojas das cidades pejadas de pais natais, nas aldeias eles são muito menos frequentes embora vão aparecendo. Nas aldeias há sempre fogo de natal e presépio.

Temos depois a árvore de natal, cujas origens não são nossas embora a construamos em todos os nossos lares. A sua decoração é por vezes uma mistura de ambas as situações (presépio, pai natal) principalmente nos casos em que os anfitriões têm origem rural. E, falo por mim, não me parece difícil.
Alguns, em que a ligação ao mundo rural seja mais forte ou recente ainda têm a tendência para ter árvores de pinheiro autêntico. E, faz parte do natal ir buscar o pinheiro para formar a árvore em casa.
Colocar na árvore os adornos e a luzes, e por baixo dela as prendas de natal faz parte do cenário que todos nós montamos nas nossas casas nas cidades.

A noite de natal é vivida também de forma diferente consoante estejamos no campo ou na cidade. Aqui, a noite é passada em casa, com as crianças a olhar para o relógio para poderem abrir as prendas.
Na aldeia, depois da ceia, em família, onde quase sempre está presente o bacalhau é o convívio em volta da fogueira, na praça. Esse convívio é por vezes interrompido para o assistir à missa do galo.
Na cidade, a missa também existe pois é uma tradição católica e a nossa população é maioritariamente católica. Mas é diferente a ida a esta missa na cidade. As pessoas não se conhecem ao contrário do que acontece nas aldeias.
Embora diferentes, nos formatos, a verdade é que o natal representa ainda a união da família e deve estender-se na partilha a todos os menos favorecidos. É evidente que a ajuda aos outros não deve ser apenas uma coisa da altura do natal. Deveria fazer parte da nossa maneira de estar e de viver. Mas, provavelmente fruto da dimensão e do egoísmo muitas vezes esquecemo-nos dos nossos vizinhos, principalmente quando vivemos na cidade. Felizmente que essa situação raramente acontece no mundo rural em que todos são vizinhos e muitas vezes dependem uns dos outros.
É provavelmente por esta dependência permanente de umas pessoas das outras que as comunidades rurais continuam a ser comunidades unidas embora como é normal haja sempre excepções.
Esteja onde estiver, viva onde viver, caro leitor ajude a fazer do natal uma data mais solidária para com todos os que o rodeiam.
Desejo um BOM NATAL 2015 para todos.
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«Do Côa ao Noémi», crónica de José Fernandes (Pailobo)
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