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Página Principal  /  Casteleiro • Viver Casteleiro  /  Mestre lagareiro e o «poço do inferno»
18 Dezembro 2015

Mestre lagareiro e o «poço do inferno»

Por Joaquim Gouveia
Casteleiro, Viver Casteleiro joaquim gouveia, lagar azeite 4 Comentários

:: :: CASTELEIRO :: :: Em tempos idos, deixando para trás o lagar de varas do Poio, havia no Casteleiro dois lagares de azeite: Um da Senhora D. Maria do Céu Guerra situado na Quinta com o meso nome, e outro do Senhor Manuelzinho (Manuel Fortuna), situado no Alvarcão, local de um farto olival que ainda hoje perdura apesar de algum abandono recente.

O sábio trabalho do Mestre do Lagar de Azeite
O sábio trabalho do Mestre do Lagar de Azeite

Os tempos eram difíceis! O trabalho no lagar exigia de quem ali labutava, diariamente, para além de um grande esforço físico, uma sobrecarga horária que ultrapassava todos os limites da resistência humana. Tudo isto a troco de muito pouco, ainda assim, indispensável para fazer face às elementares necessidades dos que, apesar de tudo, tinham a sorte de serem chamados para tal tarefa.

Coadjuvado por dois lagareiros e dois ou três ajudantes, o Mestre, vindo de longe (Mouriscas era a sua origem) ficava instalado no Casteleiro, em domínios do patrão, durante os meses de dezembro e janeiro o mesmo é dizer, «até que o último caroço de azeitona fosse completamente esmagado; tudo era bem aproveitado, não é como hoje em dia, só com rebusco governava a minha família de azeite», contava-nos um sobrevivente desse duro trabalho.

O Mestre era, sem dúvida, o principal responsável por todo o processo de fabrico do azeite; era ele quem controlava a qualidade e a quantidade do azeite produzido no Casteleiro e arredores. Só ele sabia fazer aquelas contas tão do agrado do patrão e nem sempre compensadoras para o dono do olival, aliás, a sabedoria popular soube traduzir muito bem este enigma matemático «a oliveira dá a azeitona mas só o lagar dá o azeite».

Contrapondo com os dias de hoje, os homens transportavam pesadas sacas de azeitona, muitas vezes ultrapassando a centena de quilos, desde as tulhas até ao moinho (duas enormes mós de pedra). Aqui e já movidas a eletricidade, as pesadas pedras transformavam as azeitonas numa pasta que, depois de bem quente (aumentando o rendimento e extração) era apertada nas prensas hidráulicas, de onde saía água misturada com azeite.

Esta mistura, uma vez escorrida para umas grandes vasilhas de lata («tarefas»), por acção da água bem quente e da sabedoria ancestral do Mestre Lagareiro, surge então à superfície o puro azeite era finalmente recolhido: «Tal como a verdade, também o azeite vem sempre ao de cima.»

Por fim, os restos de azeite misturado com água eram armazenados no «Poço do Inferno», para mais tarde se repetir este processos e extrair mais uns litrinhos de azeite, representando um lucro acrescido para o dono do lugar.

De referir ainda alguns descuidos, propositados, por parte do Mestre, senhor de todos os segredos da arte de fazer azeite, provocando a abertura das torneiras situadas na parte inferior das «tarefas» continuando, assim, a diminuir a parte do azeite que o cliente teria por direito, enquanto «Poço do Inferno» ia dando sinais de barriga cheia.

Enquanto isso, o azeite era medido e ao mesmo tempo retirada a «Maquia» – quantidade de litros de azeite pertencentes ao dono do lagar, em troca de todo este processo de fabrico.

Como corolário desta dolorosa safra o povo harmonizou e cantou:

«Verde foi meu nascimento/e de luto me vesti/para dar luz ao mundo/mil tormentos padeci.»

:: ::
«Viver Casteleiro», opinião de Joaquim Luís Gouveia

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Joaquim Gouveia

Origens: Casteleiro :: :: Crónica: «Viver Casteleiro» :: ::

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4 Comments

  1. António Alves Fernandes Responder
    Sábado, 19 Dezembro, 2015 às 23:07

    Gostei do texto, que fala de atividades rurais da nossa Beira Interior.

    • Joaquim Luís Gouveia Responder
      Domingo, 20 Dezembro, 2015 às 21:59

      Caro António Fernandes!
      Sem dúvida que a nossa Beira Interior, de uma forma especial, está repleta de “estórias” que muito nos ajudam a perceber melhor a sua História.
      Proceder ao seu registo é algo que enobrece qual Beirão que ama a sua terra.
      Obrigado pelas suas palavras.
      Um abraço.
      JGouveia

  2. JFernandes Responder
    Sexta-feira, 18 Dezembro, 2015 às 22:03

    Caro JGouveia:
    A maquia sempre foi uma forma de pagar um serviço sobre a transformação dum produto que nem todos podiam fazer de forma autónoma. A forma de calcular a maquia por regra era conhecida e combinada. Já o “poço do inferno” a ser reforçado de forma menos curial é típico da ganância escondida, de quem tem o exclusivo de qualquer actividade.
    “Maquias” havia no moleiro, no lagar do vinho, na feitura da aguardente e também no lagar do azeite.”Poço do inferno” parece que só neste último….
    Um abraço.
    JFernandes

    • Joaquim Luís Gouveia Responder
      Domingo, 20 Dezembro, 2015 às 21:55

      Boa noite JFernandes!

      Obrigado pelo seu complemento informativo pois muito enriqueceu esta minha crónica.
      Bem, quanto ao “poço do inferno”, continua a reunir segredos ancestrais!…
      Um abraço.
      JGouveia

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