Não sei se tenho o direito de centrar uma crónica em mim mesmo e nos espaços por onde correu a minha meninice. Correr é o termo certo. Mas vou tentar fazê-lo sem magoar nem incomodar ninguém. Ou seja: se insiro uns locais e passo por outros, gostaria que ninguém achasse que isso foi intencional… Leia e divirta-se à brava. Imagine um miúdo de seis ou sete anos a correr por estes sítios todos.

Primeira nota: as fotos que lhe levo são as do Googlemap e nada têm a ver com o aspecto que os locais tinham nesses idos de 1950 e tal. Era tudo muito mais apertado, mais escuro, menos «brilhante».
Lembro-me, de facto, do desgosto e da surpresa de encarar as ruas da minha terra quando regressei da tropa (de Angola, cheguei a Lisboa a 2 de Outubro de 1974): a aldeia era pequenina, escura, apertada. Lá em Cabinda era tudo sol, brilho, espaços abertos. Imagino que 15 anos antes seria mais ou menos o mesmo: eu, em miúdo, nem dava por isso.
Mas agora vamos aos locais. Breves legendas e muitas fotos, para você se regalar. Abençoado Google.
Foto 1
Esta é a minha casa. A casa dos meus pais. Ali nasci, ali me criei. Dali fugia quando fazia asneira e a minha mãe me queria aquecer as costas. Muitas vezes, fugia para casa da ti Delfina, ao pé do Terreiro da Fonte e para casa da minha madrinha (avó materna). Em frente da minha casa, a casa dos meus avós paternos. Ali atrás da minha, é a casa da ti Ana e do ti Armando, meus tios muito próximos e muito amigos, tal como todos, sobretudo o ti Tó e o ti Zé Gouveia, infelizmente já falecido.

Foto 2
Naquele portão verde que assinalei, entra-se para a casa dos meus avós maternos (o Google não entra em casas particulares, por isso tem de ser assim).
Era a minha segunda casa e muitas vezes a primeira. Eles eram os meus padrinhos. Os meus tios e tias. Os cheiros dos animais e a vida agrícola no seu melhor. Que saudade! Tenham paciência: avós e padrinhos é outra loiça. Dali se saía para os tchões mais bonitos do Casteleiro: a Rebêra, a Estrada, Cantargalo. Que bom. Mesmo que lá houvesse lagartos e até cobras.

Foto 3
A casa do ti Antonho Jequim. Onde passava bons tempos, depois de eles virem de Gralhais, um sítio onde me divertia à grande e para onde ia muitas vezes com os meus tios.

Foto 4
Aqui eram os Italianos: local de magias: tinham sido os fornos do tempo do minério mas já não chegaram a funcionar pois o fim da guerra acabou com aquele negócio. O meu avô entrou na posse e mais tarde na propriedade por usucapião. Ali havia os filmes, as comédias do Delfim Pedro Paixão, os bailes das tardes de outono e inverno… Depois foi (e é) a casa e café de meus tios e a casa de outros tios.

Foto 5
Espaços quase em frente da casa de meus pais, onde moravam o Sr. Zé Carlos e a Sra. Beatrizinha. Praticamente vizinhos de relação familiar com os meus pais e com quem me sentia à vontade como se fossem família – como sempre, depois, com todos os seus descendentes pois são gente de confiança e Amigos. Aos pais deles tenho de agradecer a forma como sempre fui tratado.
Mesmo ao lado dessa casa, era a casa da Senhora Pilarzinha: mais uma casa de amigos, quase família.
Por falar de vizinhos: cada um à sua maneira eram extensões da família, sobretudo o t’ Zé Pires (cantoneiro) e sua mulher e filhos (uma das filhas seria depois minha tia). Mas em garoto era com o Zé Carlos que mais brincava.

Foto 6
Perto da minha casa, logo ali acima, a cabine. Ao pé do aqueduto. Quantas brincadeiras. Um espaço mítico para mim. Quem não conhece a cabina?

Foto 7
A casa do Sr. Zézinho Azevedo. Não ia lá. Mas era uma casa que sempre me fascinava: grande, espaçosa. E misteriosa: sempre fechada e com quase ninguém. Hoje é ali o Restaurante mais famoso da zona: a Casa da Esquila.

Foto 8
O Terreiro. Hoje, Largo de São Francisco. A casa do Sr. Tó Pinto (comércio) onde passava muuuuuitas tardes a ouvir as conversas dos adultos, com meu pai à cabeça. No Terreiro já não há marco (que havia) mas há um coreto (que não havia). A torneira amarela de metal era um dos meus encantos no Terreiro. Mas o mais importante eram as árvores (álamos, olaias). Ali debaixo delas é um centro de convívio dos melhores do País que conheço.

Foto 9
A casa do Tó Ferreiro. Quero referi-la por uma razão de justiça: não sendo vizinhos, era como se fôssemos. Estava lá, na oficina dele, tão à-vontade como na garagem da minha casa… O Zé Augusto era como um irmão para mim. Era e é.

Foto 10
Finalmente, a Praça. Ali havia um chafariz espectacular. Foi aterrado por ordem do meu pai quando era Presidente da Junta, para as camionetas poderem manobrar para entrarem na rua que dá para o Ribeirinho. Mas foi uma pena. Hoje, há ali um chafariz de superfície que não tem nada a ver. Vidas…
Obrigado a quem me acompanhou nesta pequena grande viagem aos tempos da minha infância. Escrevi isto num ápice, enquanto na SIC Notícias (em menos de meia hora): foi muito simples e muito sentido ter escrito o que aí lhe fica. Para a semana: mais fotos de festas e actividades da aldeia e mais elogios a quem as promove. Até lá.
Agradeço a ambos o vosso apreço. Nada do outro mundo: apenas pôr a alma nas palavras e nas imagens… Voltem sempre: são bem-vindos. O ‘Capeia’ é de todos os que a visitam – se é que posso falar assim, caros Zé Carlos Lages e Paulo Leitão Batista.
Zé…és um bairrista de 1ª água, já se sabia…
Antes de mais os meus parabéns.gostei de ver.