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Home  /  Histórias de quadrazenhos • Opinião/Crónica/Ficção • Quadrazais  /  Histórias de quadrazenhos – o senhor Naco
11 Dezembro 2015

Histórias de quadrazenhos – o senhor Naco

Por Franklim Costa Braga
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::  HISTÓRIAS DE QUADRAZENHOS  ::  Assim mesmo – o Senhor Naco –, apesar de lhe faltar o juízo que, segundo alguns, era em excesso. Isso mesmo demonstrou numa festa da Sant’Ófêmia, em que a banda de música era do Reformatório da Guarda e já não visitava Quadrazais havia muitos anos. Eu não me lembrava de ter visto as fardas branco acinzentado na aldeia. Mas o Sr. Naco lembrava-se perfeitamente dos nomes de todos aqueles músicos e vá de chamar pelo Sr. Oliveira, pelo Sr. Manuel, etc., como se os tivesse conhecido na véspera.

Quadrazais
Quadrazais

Era ele que ia à frente da banda da música, como se fosse ele o chefe.

Filho do Sr. Nacleto, a pessoa mais rica da povoação, riqueza acumulada, em boa parte, por juros usurários que cobrava aos pobres contrabandistas que teriam de pagar grandes coimas à justiça, aos desordeiros que por alguma facada teriam de pagar custas e outras coimas ao tribunal do Sabugal ou seus escrivães, por isso alcunhados de cães de fila ou da vila, ou ainda a doentes que teriam de pagar bom dinheiro aos médicos, se não queriam ir desta para melhor, o Sr. Nacleto não perdoava a quantia emprestada a ser devolvida no dia combinado.

Não tinham dinheiro para pagar? Como o haviam de ter se o gastaram na justiça e nos remédios e o que ganhavam nas jornas do dia a dia ou nas noites de contrabando mal dava para matar a fome de mulher e filhos!
– Não têm? Então o chão penhorado fica para mim!

E assim foi acumulando terrenos que formavam autênticas quintas ao Soito Concelho, ao Meal Cabo, aos Salgueiros, munho ao Covão e forno e comércio à Fonte, junto da sua residência apalaçada ligada a outra por passadiço, com enorme quintal mesmo no meio da povoação. Para a sua riqueza em terras também tinha contribuído o jogo com o irmão Zé Jaquim e o Sr. Alberto, avô do Jesué. Este perdera a favor daqueles a maior parte do que tinha, a ponto de ter rumado à Argentina se queria viver decentemente.

Por isso era tratado por Senhor, tratamento só dado a pessoas de fora respeitadas ou aos Mouras e Vieiras. Igual tratamento tinham os filhos, loucos ou não.

Era voz corrente que a loucura do Sr. Naco, do Sr. Ilídio e, em certa medida, de outras filhas e netas, era o castigo que Deus lhe dera por ter rasgado na Praça, ao sair da missa, a batina do padre Luís Moreira, sabe-se lá porquê! Mas certamente por ter verberado nalgum sermão esta usura dos ricos contra os pobres.

Ele, Anacleto, não renunciava ao seu direito de ter um genuflexório para si ao cimo, do lado esquerdo da igreja. Mas, não tinha sido ele a mandar colocar com o seu dinheiro uma cúpula caiada, encimada por um galo, na torre do sino sem cobertura, como era uso nas aldeias espanholas e algumas portuguesas da raia? Então, não teria direitos especiais na igreja?!

Mas estas acções deixam marcas profundas nos corações e rebentam em ódios na ocasião propícia. Foi o que aconteceu no Natal de 1936, quando a guerra civil espanhola opunha comunistas aos de direita. Ali se deitava fogo às propriedades de ricos e tiranos. Por que não fazer o mesmo em Quadrazais, mesmo ao lado de Valverde que os quadrazenhos visitavam diariamente em ranchos de mulheres e crianças para trazerem uma lata de azeite, um pão espanhol, umas alpergatas, uma boina basca ou a pana para fazerem umas calças para o marido e filhos ou vender a terceiros?

A terra estava dividida entre o apoio ao Sr. Nacleto e os apoiantes do padre Salcedas, certamente do lado dos que nada tinham.

Uma noite rebenta o reboliço e alguém deitou fogo aos palheiros do Sr. Nacleto, onde arderam uns carros de feno e palha, que guardava para os animais. Vem a Guarda e prende o Chancha, a irmã do padre e mais uns tantos, que leva para a cidade da Guarda. Só mais tarde se soube que quem ateara o fogo tinha sido o próprio forneiro do Sr. Nacleto. Pagaram os justos pelo pecador!

Voltemos ao Sr. Naco. Como nada fazia na ajuda da casa, ao contrário do irmão Ilídio que ia à fonte encher jarros e caldeiros de água, a quem a rapaziada presenteava com: «Rabão! Rabão!», injúria essa ou qualquer outra que ninguém se atrevia a dirigir ao Sr. Naco, respeitado por todos, o Sr. Naco ocupava-se em fechar a mala do correio e dar o apito de partida à camioneta ou a notícia da sua chegada. Era vê-lo todas as manhãs, bem cedo, na loja do Papo Seco, onde funcionava o correio, a fechar o saco do correio, dando uma pancadinha num fecho metálico.

Ai, se alguém fechava a mala sem a sua presença!

E era vê-lo a morder a mão de contente quando o encontravam e lhe diziam:

– Ai mãe!, Sr. Naco! Que berro deu hoje a mala! Ouvi-o aqui ao Santo António. Até tive medo que fosse algum tiro!

O Sr. Naco só não tinha ordens sobre os telegramas, nem sequer o Papo-Seco. Era um homem do Sabugal, já velhote que, de vara nas duas mãos pelas extremidades, vinha a pé trazer os telegramas no seu passo estugado próprio da urgência do que anunciava, um tanto bamboleante, por vezes aproximando-se do andar do bêbado. À Eirinha, na guarda da vinha, via-o passar muitas vezes na estrada, ficando a pensar para quem seria o telegrama e se a notícia seria boa ou má, merecedora de albíxaras ou não. Vinha-me à memória o telegrama que minha mãe enviou a meu pai para Assumar anunciando-lhe a morte da Balila. O telegrama só foi recebido uns três dias depois, não podendo meu pai assistir ao enterro. Por isso, meu pai nunca mais voltou a Assumar.

Pois bem, do correio seguia o Sr. Naco para a Fonte, ali ao lado da sua casa, paragem da camioneta dos Martins-Évora que vinha dos Fóios em direcção ao Sabugal e Castelo Branco. O condutor era o barrigudo Saraiva. Estabelecera-se entre os dois um conluio. Seria o Sr. Naco a dar a partida da camioneta. Para tal, o Saraiva comprara-lhe um apito, que o Sr. Naco guardava religiosamente preso ao buraco do casaco por um fio. E quando o Saraiva já tinha dentro da camioneta todo o pessoal, o Sr. Naco pegava do apito e: Ala! Aí vai a camioneta.

À tardinha, noite dentro nos dias de Inverno, o Sr. Naco ia estrada fora até ao cemitério à espera da camioneta.

Certa noite, minha mãe viu-o na estrada junto do nosso portão. Como afilhada que era do pai, Sr. Nacleto, como tantas outras, chamou-o para se aquecer ao lume, já que o frio apertava. Aceitou, com as mãos já doridas de frio. E lá se assentou ao lume, a aquecer-se, mas sempre com o ouvido bem atento ao ron-ron da camioneta. Eis senão quando se levanta de repente e sai porta fora, não atendendo ao chamamento de minha mãe. A camioneta, com som quase imperceptível, mas bem audível para ele, soava lá longe, talvez à Eirinha.

Queira Deus que desta vez não fique presa na lama aí para os lados da Telhada!

Algumas vezes isso acontecia e também na neve. Lá tinham de procurar duas ou três juntas de vacas para ir desatascar a camioneta, para desespero do Sr. Naco, que via adiar a sua apitadela para a meia-noite.

Mas nessa noite a camioneta veio normalmente. Junto do cemitério o Sr. Naco faz-lhe alto. E o Saraiva, qual empregado obediente, pára, que é preciso montá-lo até à Fonte.

Saem os quadrazenhos. Continuam os vale d’espinheiros e fojeiros. É preciso dar a partida. O Sr. Naco, mais, uma vez puxa do apito, leva-o à boca e sai o som da partida. A camioneta recomeça a sua viagem.

O Sr. Naco vai para casa, deita-se e sonhará com o fecho da mala e da partida da camioneta no dia seguinte.

Até quando? Até que Deus queira!

Durou este trabalho alguns anos mais. O pai já tinha morrido havia uns anos e sido enterrado no então único jazigo do cemitério, fazendo jus à sua fortuna. Melhor seria que o tivessem enterrado em campa normal!

Hoje o jazigo está abandonado, mortas que estão as filhas e o Sr Ilídio que aí ia depositar flores.

A mãe, a Dona Prazeres, do Soito, não dava conta dos roubos de dinheiro subtraído da burra, de batatas, azeite, vinho e outros produtos por parte do neto Chico e das criadas Robala e outras. A casa afundava-se. Morre a Dona Prazeres. As filhas, a Estela, a Irene e a Cilinha depressa tentam pôr tudo com dono, excepto a casa, que é doada à igreja e que agora está a cair, porque alguém interpôs uma acção judicial.

A Estela, que perguntava se as vacas comiam arroz, era tão gorda que, certo dia, se estatelou na Praça e tiveram que a levantar usando um carro de vacas e colocando-a na cabeçalha para depois a içarem. Consta que comprava um cabrito e este desaparecia num dia. O marido, o Sr. Hermógenes, até era magro. O filho Chico não seria grande comedor. Mas ela e as duas filhas, gordas como ela, fariam desaparecer depressa o cabrito, talvez nem acompanhado de nada, pois para cozinheira não tinha sido treinada. Um desgoverno!

Que fazer do Sr. Naco e do Sr. Ilídio? Creio que os meteram num asilo para os lados de Lisboa, no Tojal, onde faleceram fora dos olhares dos quadrazenhos e sem vista para a camioneta do Saraiva, entretanto já trocada pela empresa da Viúva Monteiro & Irmão, do Sabugal.

Será que o Sr. Naco iria gostar da mudança de cor da camioneta, de vermelha para verde-branca?!

Notas:
Ala! – interjeição que indica pressa.
Albíxaras – alvíssaras.
Alpergatas – alpercatas.
Balila – Maria.
Desatascar – tirar da lama.
Munho – moínho
Nacleto – Anacleto.
Pana – veludo espanhol.
Sant’Ófêmia – Santa Eufêmia.

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«Histórias de quadrazenhos», por Franklim Costa Braga
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Maio de 2014)

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