Graças à sua localização entre serras (Serra D’Opa, Serra da Vila, Cabeço Pelado), o Casteleiro, com os seus terrenos férteis e clima ameno tem-se assumido, desde sempre, como um dos melhores locais para o desenvolvimento do olival tradicional, de onde é extraído um azeite de elevada qualidade e de características invulgares para a saúde.
Não há bocado de terra que não tenha por companhia as seculares oliveiras que, ano a ano e de geração em geração, se encarregam de levar a cada casa de família o milagroso «fio de ouro», complemento indispensável ao sabor da gastronomia portuguesa.
Este é um verdadeiro potencial que interessa preservar e, porque não, assumir-se como uma das imagens de marca do Casteleiro!
A sua invulgar qualidade adicionada a um belo prato de bacalhau com batatas e couves, uma deliciosa «taborna» – pão torrado com o calor das brasas e untado com o famoso «fio de ouro» – ou no tempero de uma saborosa salada, fornece à culinária portuguesa um sabor tão mediterrânico como a árvore que o produz.
Mas, se gastarmos alguns dos momentos da corrida do nosso tempo à conversa com as pessoas mais idosas do Casteleiro, que espreitam na soleira da porta, os raios envergonhados deste sol de inverno, damo-nos conta de um saber ancestral em que o azeite marca sempre presença.
Se tivermos mesmo paciência e se isso nos der prazer, como a mim, ficamos ainda a conhecer o que o nosso povo sabe sobre os benefícios e as vantagens deste líquido para a saúde de todos nós. Segundo a ti Josefa me confessou, beber uma colher de azeite em jejum é benéfico para a vesícula e para o fígado, ajudando a secreção da bílis e a tonicidade dos tecidos. Actua como tónico do sistema nervoso e protege das doenças do coração.
Apesar dos seus benefícios, disse-me ela em tom de aviso, «não podemos esquecer que o azeite é uma gordura e, como tem um elevado valor energético deve ser consumido com moderação».
Já em fim de conversa, a ti Josefa segredou-me ao ouvido, como se de um tesouro se tratasse: «Cá no povo havia uma mulher – já morreu – que dizia fazer bem às pessoas, até mesmo aos animais. Por meio de umas rezas (azeite dourado, nasceste sem ser semeado, a virtude que Deus te deu, tira o mal que a este deu) e colocando três gotas de azeite sobre um prato com água, tirando assim o mau-olhado sobre quem estava possuída…pelo demónio. Nem lhe digo mais nada!.. E não é que às vezes acertava?!…»
E, com a alegria estampada no rosto, sinal de agradecimento por esta «viagem» acompanhada, da sua garganta, já encarquilhada pelos anos, saíram as primeiras, as segundas,…e tantas outras notas musicais:
«À oliveira da serra/ o vento leva a flor/ À oliveira da serra/ o vento leva a flor./Ó i ó ai, só a mim ninguém me leva/ Ó i ó ai, para o pé do meu amor./ Ó i ó ai, só a mim ninguém me leva/ Ó i ó ai, para o pé do meu amor.»
As coisas que eu aprendi!…
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«Viver Casteleiro», opinião de Joaquim Luís Gouveia
Bom texto. Parabéns, caro Professor. Este tema está bem inserido nas gentes da Beira Baixa
Uma dúvida, é taborna ou tibórnia? Um abraço.
Meu caro António Fernandes!
Muito obrigado pela sua opinião.
A questão que coloca é pertinente. Sem dúvida que a palavra correta é tibórna/tibórnia, para designar «pão quente embebido em azeite novo». Como bem sabe o povo, por vezes, no seu linguajar faz atropelos linguísticos. Desta forma, no Casteleiro utilizava-se o termo tiborna para designar o tal acepipe («pão quente embebido em azeite novo»), feito durante a labuta dos lagares de azeite aqui existentes.
Abraço
JGouveia
caro Joaquim Gouveia
Estou totalmente de acordo consigo. O olival tradicional não competirá nunca com o olival industrial que hoje enche parte do Alentejo. Nem essa é a sua missão.
Defendo há muito que ao lado de um setor agrícola industrializado, deve continuar a apoiar-se a agricultura tradicional, fator essencial de coesão social e de ocupação humana do território.
Lembro as idas com o meu pai e o meu tio aos lagares de Santo Estêvão, onde se comprava o azeite para todo o ano.
Como lembro, mais recentemente, a apanha da azeitona na terra do meu sogro em Castelo Branco.
Desaparecido este, as oliveiras para lá estão a mirrar, pois o que ele e os da sua geração faziam porque amavam a terra e tiravam dela uma parte substancial da sua subsistência, não interessa aos novos “agricultores”, pois o lucro é escasso ou nulo.
Boa tarde Ramiro!
Agradeço o seu comentário.
Sem dúvida que o nosso concelho, a contrapor com a forte desertificação existente, é portador de potencialidades que continuam por explorar e outras completamente desprezadas.
O olival tradicional que povoa muitas das nossa aldeias, muito aquém da produção extensiva do Alentejo, afirma-se pela qualidade do seu azeite. Pena é que não lhe saibamos dar o devido valor!
À semelhança de outros desafios que o amigo Ramiro aqui tem tornado público, junto mais este!
Se queremos mudar o rumo do nosso concelho, temos que potenciar o que temos de bom ou que sabemos fazer bem e, a partir daí, juntar sinergias que levem à criação de centros de interesse capazes de travar o êxodo a que temos estado sujeitos nas últimas décadas.
Abraço
JGouveia