Uma pintura e um poema de Alcínio, onde viaja nas asas do pensamento para um mundo novo sem quimeras.

Do terraço da casa observo por entre o arvoredo despido
Uma nuvem correndo como uma gigantesca cortina
Cobrindo os últimos raios de sol, sobre o cerro que marca a linha do horizonte
Como uma linha fracturante entre passado e presente.
Para onde me levas ó pensamento volúvel, sinuoso
Como a veloz e efémera rajada de vento
Colidindo com tudo seguindo sempre como condenado
Agrilhoado à tua peugada sem dar por nada
Esquece o passado tal como vento
Sem saber onde começa e acaba
És uma teia emaranhada que só se desenleia se for cortada
Por que te enredas com coisas de nada?
És um espelho partido
Tentando juntar pedaços dum tempo já perdido
Não me leves por caminhos que já não quero nem posso voltar a pisar
Leva me para o desconhecido
Um mundo novo que valha a pena ser vivido
Deixa para lá os fratais da vida partidos.
És como um amigo traiçoeiro que conduzes ao abismo
Sem avisar primeiro
Recuso seguir te se não dizes onde me levas
Porque quero distinguir a luz das trevas.
Voarei nas tuas asas para um mundo novo sem quimeras.
Onde o homem não seja lobo do homem
Que não exclua ninguém do direito a justiça à paz ao amor e à dignidade humana
Temos o destino traçado somos sulco e arado, farinha do mesmo saco
Somos a voz e o fado.
Só tu conheces os meus segredos, os meus prazeres, as minhas esperanças, as conseguidas e as falhadas
Se os contares todo o encanto será perdido,
Podes poupar me sofrimento ou dar me alento
E já que eu sou tu, tu és eu, foi o determinismo ou conjunto de circunstâncias que nos uniu?
Ou o aleatório dos acidentes químicos ou mutações biológicas que nos impeliu?
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«Vivências a Cor», expressão de Alcínio Vicente
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