O estudo das gírias ou do calão não se confinou ao século XIX ou à primeira metade do séc. XX. Em 1965, Manuel Joaquim Delgado, numa separata da Revista de Portugal, escreveu um artigo… «O Calão Fino e a Gíria Plebeia».

Nesse artigo onde apresenta os seguintes termos também usados na Gíria Quadrazenha:
Andantes – sapatos.
Briol – vinho.
Cambalacho – troca, pequeno negócio.
Chantra – meretriz.
Cheta – pouco dinheiro.
Gâmbias – pernas.
Giro – bonito.
Naifa – faca, navalha.
Penante – chapéu.
Já Albino Lapa, no seu Dicionário de Calão, de 1974, inclui na sua bibliografia Maria Mim, de Nuno de Montemor, que apresenta um Glossário da Gíria Quadrazenha. Mas não fala em Quadrazais, ao contrário do Calão de Minde. Albino Lapa apresenta muitos termos usados em Quadrazais, mas da Gíria apresenta os seguintes:
Adicar – ver.
Alímpio – azeite (gíria dos contrabandistas).
Alampiosas – azeitonas (gíria dos contrabandistas).
Alipantes – olhos (gíria dos contrabandistas).
Altanar – casar (gíria dos contrabandistas).
Âmbria – fome (calão de Minde).
Anaco – pedaço de qualquer coisa (carrego de fazenda na G. Q.).
Ânsia – água.
Andantes – pés (viagem, caminho na G. Q.).
Arcosa – anel (arcoso na G. Q.).
Ardose – aguardente (ardosa na G. Q.).
Arguino – pedreiro (arguina na G. Q.).
Artife – pão.
Bandarra – relógio (Calão de Minde).
Baril – bom.
Beca – taberna.
Briol – vinho.
Calcante – pé.
Calcantes – pés, sapatos, botas.
Calcos – sapatos.
Cambalacho – conluio fraudulento (cambalache – negócio na G. Q.).
Canga – igreja (cangra na G. Q.).
Cardenho – casa.
Chantra – meretriz (chandra na G. Q.).
Cheta – vintém, dinheiro (chete – vintém na G. Q.).
Choina – cama.
Choinar – dormir (chonar na G.Q.).
Cosque – casa.
Fanoa – peça de fazenda.
Farpela – manta, roupa.
Fogante – pistola (fugante – revólver na G.Q.).
Francisco Paiva – cigarro (fumador na G. Q.). Será de Paiva que vem Paivo – cigarro?
Fujanta – espingarda (fuganta na G. Q.).
Fujante – revólver (fugante na G. Q.).
Fusco – agente da Polícia.
Gadé – dinheiro.
Galdinas – calças (galdrinas na G. Q.).
Galdras – calças.
Galrar – falar.
Gamarra ou gomarra – galinha (usado na G.Q.).
Gâmbias – pernas.
Geba – mulher velha.
Gilfo(a) – ladrão de profissão (filho na G. Q.).
Granjeiro – adulto (grande, maior na G.Q.).
Grilo – relógio.
Grunho – porco.
Gualdinas – calças (galdrinas na G. Q.).
Guines – cinco réis.
Ibau! – apoiado! (fulano na G. Q.).
João da rua – vento.
Lãmpio – azeite (alâmpio na G. Q.).
Larga – jaqueta (largo na G. Q.).
Largo – casaco.
Limosa – camisa (lamosa na G. Q.).
Lísbia – Lisboa.
Lodo – dinheiro, ouro.
Loira – libra.
Lupante – olho (alipante na G.Q.).
Lúzio – olho.
Macalo – cavalo. ??
Maleque – pouco valor (tabaco na G.Q.).
Maloque – tabaco (maleque na G. Q.).
Manego(a) – homem, mulher.
Manês – indivíduo (rapaz, homem na G.Q.).
Mata – cidade.
Mata Granja – Lisboa.
Mata Linda – Coimbra (Mata Líria na G.Q.).
Moá – eu (moi, que em Francês se lê moá, na G. Q.).
Moquir – comer.
Naco – pedaço de pão (saco na G. Q., mas com o mesmo sentido na linguagem comum).
Naifa – faca, navalha.
Naifada – facada.
Nejo – não (nada na G.Q.).
Nentes – nada, cuidado!
Nurro – falso (nhurro – casmurro na G. Q.).
Paivante – cigarro (fumador na G.Q.).
Paivo – cigarro.
Penante chapéu (pinante na G. Q.).
Penosa – galinha.
Pildra, pilra – cama.
Proio – nadegueiro.
Rufo – lume (runfo na G. Q.).
Saltante – cabra (coelho na G. Q.).
Sarruca – medalha de corrente (corrente na G. Q.).
Soguideira – comida (suquideira na G. Q.).
Sorna, sornar – dormir (Chona, chonar na G. Q.).
Suquir, soquir – comer.
Tefe – medo (tefe-tefe na G. Q.).
Terragosa – Lisboa (tarragosa – batata na G. Q.).
Terrosa – batata (tarragosa, tarroina na G. Q.).
Tiras – calças.
Toiene – tu (toienes na G. Q.).
Tótio – o que já sofreu condenações de todo o género (tótios – todos na G. Q.).
Vagarosa – cárcere.
Ventana – janela (ventanosa na G. Q.).
Ventosa – janela.
Vista baixa – porco (Calão Minderico, mas também da G. Q.).
Xandra – meretriz.
Xoina – dormir (choina – cama na G. Q.).
Xona – noite (escrito choina na G.Q.)
Albino Lapa apresenta ainda muitas palavras consideradas calão, que se usam em Quadrazais, algumas com sentido diferente, mas não consideradas na Gíria. Ex: laparoto (falsificador de cheques ou letras), naco, nalgas, selvagem (pistola sauvage), tachas (dentes), trabuquir (trabucar em Quadrazais).
Embora Albino Lapa não cite a Gíria Quadrazenha, é notório que a devia conhecer, tantas são as palavras comuns. Albino Lapa regista o termo Francisco Paiva com o significado de cigarro. Na G. Q. significa fumador e paivo significa cigarro. Será que paivante e paivo provêm de Francisco Paiva?
Leave a Reply