Num tempo já longínquo, mas que interessa trazer aqui para conhecimento dos mais novos, o dia 1 de Novembro – Dia de Todos os Santos – era também o dia de «pedir o santoro».
A imponente torre da igreja do Casteleiro, fruto de uma saudável promessa do senhor Manuel Fortuna, em troca das pessoas do Casteleiro deixarem de passar numa vereda que atravessava a sua propriedade «O Alvarcão», representava para toda a pequenada, a ambição de um dia a poder subir e repicar o sino, com mestria, num dia de festa ou mesmo na marcação do ritmo do compasso até ao cemitério.
Longe do simbolismo que o Dia dos Santos representava para os adultos, a garotada mal deixava a manhã anunciar-se lá para os lados da serra d’Opa, já se fazia sentir o seu barulho nas ruas, ainda povoadas, da aldeia.
Do largo do Reduto à Carreirinha, da Estalagem ao Ribeirinho, de cestas de verga dependuradas nos tenros braços o João, a Rosa, a Fátima, o Manuel,… não deixavam passar uma porta que fosse sem bater, apelando ao dono «pode-me dar-me um santorinho?» Mas a sorte nem sempre era boa companheira. A debilidade económica da maior parte das famílias nem sempre permitia satisfazer o olhar, meigo e doce, desta trupe que, ano após ano, se regenerava de modo a prolongar a tradição.
Mas as cestas só ficavam completas com as dádivas, sempre desejadas, das famílias mais abastadas da aleia. Romãs, nozes, rebuçados e umas pequenas e raras moedas faziam as delícias dos gaiatos de então!
Com a manhã a meio e com esta tarefa concluída era tempo de, cada qual regressar a sua casa e, aí, arregalar bem os olhos para os manjares recolhidos e mais tarde fazer jus ao paladar.
Entretanto, bem do alto da torre, emergia a toada do sino, soberano chamamento para a missa dominical antecedendo, desta forma, o tradicional compasso até ao cemitério.
Nota:
1) É de salientar que, desta aldeia de que vos falo, já ninguém pede o «santoro» há cerca de cinco décadas, perdendo-se assim esta tradição.
2) Actualmente, o dia 1 de Novembro deixou de ser dia santo (de guarda) e já nem pelo calendário religioso é respeitado podendo este dia, Santo, ser lembrado a 31 de Outubro, fazendo de conta que é 1 de Novembro…
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«Viver Casteleiro», opinião de Joaquim Luís Gouveia
Bem lembrado, amigo António Fernandes!
Sem dúvida que, no Casteleiro, os padrinhos também davam aos afilhados um pão especial, designado por “bica” – massa de trigo esticada e pincelada com azeite; um sabor inigualável!
É curioso que, embora a tradição de oferta da “bica” aos afilhados já se tenha perdido, persiste ainda o hábito das padarias que fornecem o pão ao Casteleiro, nesta época, continuarem a fazer este pão especial, continuando a ter muita procura da população residente.
Abraço
JGouveia
Na Bismula, o santoro era um pão especial que os padrinhos davam aos seus afilhados, no Dia de Todos os Santos. Apreciei esta lembrança.