Este baile, em que se transformou a política, recorda-me aquelas encenações do carnaval de Veneza. Resultado de um encenador com mau gosto, o baile desenrola-se, lentamente. Tão lento quanto o tirar, melhor dizendo deslizar, da máscara. Nesses bailes, tudo é feito com requinte, com delicadeza, até a cada gesto acresce um não sei quê de leveza. Aqui não. As cenas vão desenrolando-se lentas, sim, mas desenhados gestos desarticulados e desactualizados.

Escrevi aqui que tinha sido uma boa altura para Passos Coelho trazer para o palco político os «pesos pesados» do partido e da sua esfera política. Não o fez, e como aqui deixei expresso, porque estes recusaram o convite ou porque habitava já a convicção de que era um governo a prazo e o que era preciso era apresentar um governo. Ou, no extremo, esses «pesos pesados» não existem.
Tinha sido benéfico para o «baile» político trazer o melhor exército. Pois mostrava ao país que era fiel depositário dos votos que lhe confiaram, como demonstrava coerência com o discurso muito pessedesiano de salvadores da pátria. Mostrava o superior interesse do país. Mas não. Enveredou por uma dança de faz de conta, radicalizando a posição. Ou comigo ou sozinho.
Mas nunca e gestão. Ou governo ou vou para a oposição. Na primeira, verificou-se que ele não queria mais ninguém consigo. Iria sozinho. E aqui surgia uma nova oportunidade para um paço de dança político: apresentaria (mesmo com um governo destes) um plano de governo/orçamento o mais concedível possível ao PS. Mas não, dançaria consigo mesmo, convencido que está de que é possível agarrar a própria sombra. Apresenta, no primeiro passo, medidas que vão no sentido contrário. O problema é que o poder não está num homem isolado. O poder são muitos poderes. É dessa forma que se apresenta, já, a possibilidade de ficar num governo de gestão. É que na oposição não se está nem se controla… o poder. E assim, cai a máscara. Não, não se está no poder pelo superior interesse da nação. Está-se no poder pelos poderes. Como outros. Mas pelo menos não venham com essas lamechices dos superiores interesses da nação.
Do outro lado o baile também se desenrola lentamente. Este com mais suspense, no sentido em que parece haver sempre mais algo a revelar. Este lusco-fusco das negociações entre esquerdas, perspectivando uma manhã, traz suspensa a dança política. Aqui, seria importante que as máscaras caíssem, numa revelação clara dos papéis que desempenham e querem desempenhar.
Uma pequena referência: o líder da bancada do PSD foi eleito com 97% dos votos dos deputados e o líder da bacada do CDS com 100% dos votos. Ambos se recandidatavam ao cargo. Estes são resultados ao estilo da Coreia do Norte. Por aqui se vê a democracia nesses partidos. Ou os seus líderes são, no mínimo, brilhantes e os deputados demonstraram-lhe esse louvor no voto ou, então, é uma cambada de yes-man’s. A isso eu chamo carneirada (e não tem a ver com o fundador do partido).
p.s. No Sabugal também caiu a máscara ao António José Vaz.
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«A Quinta Quina», opinião de Fernando Lopes
O PSD e CDS, não havendo acordo com o PS, não querem ser Governo, porque fazem má figura e perdem as próximas eleições lá pró verão. O PS não quer ser Governo, porque as pessoas acham que perdeu as eleições, e assim perdia as próximas. O Passos, Portas e Costa, e sem núcleos não querem saber disso pra nada. Porque, na melhor hipótese para os respectivos partidos, não seriam eles os leaders.