Nos dias de semana trabalhava os seus chões. Aos Domingos e feriados era vê-lo à Praça junto do seu tabuleiro das amêndoas, que vendia ao cartucho ou à unidade. A miudagem só tinha um ou dois tostões, raramente cinco, e comprava à unidade.

Apenas os rapazes crescidos gastavam mais por as ganharem ao sete e meio, jogado sobre o tabuleiro das amêndoas, sobretudo na Páscoa, muitas vezes para as oferecerem às namoradas.
Pois bem, o Tonho Zé Rato, António José Afonso Palinhas de seu nome, quando menino não gostava de caldudo, sopa de castanhas comum em terra delas, forte e grossa como a sopa da pedra.
Insistia a mãe para que comesse. E ele nada. De vez em quando levava uma lostra.
Descobriu uma maneira de não o obrigarem a comer aquela sopa.
Usava ele um garruço no Inverno. Pega nele e deita-o para dentro da panela da sopa. E vá de gritar:
– Um rato! Um rato!
– Onde vés o rato? – pergunta-lhe a mãe.
– Ali, dentro da panela.
Pega a mãe numa colher, mete-a na sopa e puxa o hipotético rato. Ao de cima da sopa parecia mesmo um rato.
Unh! Malvado rato! Como entrou para a panela?
Vai à porta com a panela e despeja a sopa no curral. Só depois verifica que se tratava do garruço do Tonho Zé.
– Ah! ladrão, que me estragaste a ceia!
O Tonho Zé pagou a ceia com umas lambadas. Toma lá que já ceastes!
Mas não foi só a tareia que perdurou ligada a ele. Sabedores da cena, que a mãe contara à vizinhança, a miudagem pôs-lhe logo a alcunha de Rato. E Tonho Zé Rato ficou para sempre, alcunha de que não desgostava, adoptando-a como nome. E assim passou a alcunha para os filhos: O Aurélio Rato e a Maria Ratinha.
«Cuidado, Tonho Zé, no outro mundo! Não tentes enganar lá o pessoal, que aí são mais espertos que tu!»
Amêndoas! Isso, tenta vender-lhes umas amêndoas para lhes adoçar a boca! Mesmo sem sete e meio, que aí não se dão amêndoas às namoradas. E se não te pagarem as amêndoas… Para que queres agora o dinheiro? Recebias escudos. Agora os escudos já não circulam!
Aconselho-te a convencer aí o pessoal a provar o caldudo. Talvez não desdenhem e tu até comeces a gostar dele. Vem por uns momentos a Quadrazais e leva uma saca de castanhas, se ainda encontrares tantas, que por vezes a doença não deixa encher uma saca, como em 2014. E já não encontrarás os castanheiros que cá deixaste, que esses secaram ou arderam.
Notas:
Chões – terrenos de cultivo.
Vés – vês.
Ceia – o jantar nas cidades.
Ceastes – ceaste, equivalente a jantaste.
Lostra – bofetada.
Leave a Reply