Nota-se bem o Outono neste Outubro. Espera-se, já, o Inverno e não me lembro de um outono tão entremeado de luz com chuva copiosa. Embala-se Outubro para o fim, indiferente a turbulências políticas que emergem e se afundam em cada dia que passa.

Também a natureza segue o seu curso, indiferente, esquecendo o que os homens fazem (ou não fazem) por ela. Apesar disso, não os priva da beleza da luz que, apesar de pálida, rompe as nuvens esfrangalhadas atingindo a cidade com o carinho de um abraço em início de namoro.
Estancou-se, há pouco, a chuva fresca. Espera-se agora pelo frio e pelo Natal. Este Outono e este outubro são de chuvas e sóis, de cinzentos cor de céu suave e de castanhos cor de natureza esmorecida. Já abalaram os frutos. Caem, agora, as folhas mas as árvores persistirão de pé como exemplo de resistência. O Outono, podendo ser o ocaso do ano, não o é da existência até porque é nele que se gera o Inverno.
A tarde convida-me a deambular pela cidade da Guarda. Mantenho este meu velho gosto de passear observando. Constato os passantes, com os seus diferentes comportamentos. Hoje atento, sobretudo, na sua reação ao tempo. O sol tímido e a temperatura ambiente algo baixa enganam alguns que arriscam um vestuário de verão insensíveis à aragem outonal.
Desfilam uns de manga curta ao lado de outros de casaco e alguns já de cachecol como que exigindo a presença do frio autêntico que ainda não surgiu. Sou levado a pensar que, pelo menos no vestuário, por aqui reina ainda uma verdadeira democracia.
Ao longo da minha crónica vou bebendo da cidade montesina que me parece deslumbrada sem que eu saiba, ao certo, porquê. Observo a multidão pouco espessa que olha mas não compra, que experimenta a esplanada mas pouco bebe e nada come. A tarde morna continua a envolver-nos, a temperar-nos, a acariciar-nos. Sigo o meu giro meditando e registando este olhar sobre o burgo e seus transeuntes que em tudo querem parecer apressados disfarçando algum suspeitoso ócio em remansado passeio de tarde outonal numa cidade que relaxa na adjacência serrana.
Morrerão e renascerão os dias de outono. Cada novo dia será sempre diferente do que acaba e, nesse seguimento, eclodirá o Inverno.
Vem aí, no final da tarde, o cinzento de cinza, o húmido da névoa e o negro da noite escura para substituir a claridade tépida. E tudo isto se repetirá enquanto durar o Outono, até dezembro cujo frio marca o fim do ano e a chegada de um outro novo. Assim outubro após outubro, outono após outono, farão girar, sem término, o ciclo da vida.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
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