O povo foi às urnas e decidiu acabar com as alternâncias PS/PSD e dar início a uma forma alternativa de fazer política e de exercer o poder da governação. Em minha opinião talvez seja o resultado mais adequado para o lamaçal instalado no Estado Português. Assim os políticos o saibam interpretar e aproveitar.
Claro está que a coligação PAF como candidata às eleições legislativas obteve uma vitória. Contudo, também teve derrotas e isto depende da vista utilizada. Se virmos com a Direita, vemos que a coligação PAF foi a candidata mais votada, com cerca de 37% dos votantes. Se virmos com a vista da esquerda vemos os contornos de uma coligação pós-eleitoral que representa cerca de 51% dos que foram às urnas. Se virmos com os olhos abertos vemos que afinal há uma espécie de coligação pré-eleitoral, pois a coligação não foi para todo o território, e uma provável coligação pós-eleitoral. E pergunta-se porquê? Porque a Direita foi mais organizada e soube tirar partido de uma abstenção elevadíssima, sabe-se lá porque, e do não desperdiçar de votos, que a Esquerda esbanja relativamente à sua pulverização, aos círculos eleitorais e ao método de Hondt.
Para prosseguir temos que deitar a mão à Mãe de todas as Leis, que diz que o Presidente nomeia o Primeiro-Ministro tendo em conta os resultados eleitorais e ouvidos os partidos representados no Parlamento.
Ora «os resultados» não é a mesma coisa que «o resultado». O termo usado na Constituição obriga a que o Presidente tenha em conta um conjunto de circunstâncias que resultaram das eleições e não se detenha unicamente no número de votos de cada candidato. Qualquer ser normal pode concluir que uma coligação partidária pode surgir e desfazer-se a qualquer momento, prova disso é a decisão irrevogável do líder do CDS-PP em 2013 e a meia desfeita dos Açores e da Madeira nestas eleições.
Voltando aos números, parece demonstrado que 51% para além de ser mais que 37%, representa também a maioria absoluta. Vendo as coisas em bruto, verifica-se que a coligação perdeu cerca de 700.000 votantes. Deste número, 200.000 terão ficado em casa com o estatuto de arrependidos, o PS arregimentou cerca de 200.000 e os outros 300.000 deram voz ao PAN e uma importância absolutamente incontornável ao Bloco de Esquerda, que liderado por um trio de formosas debutantes e respeitando os seus mestres, mereceu ultrapassar largamente o meio milhão de votantes e ficar no pódio.
Analisando mais detalhadamente vemos que o PS ficou com o papel de Joker, ou seja, se encostar à Direita forma maioria absoluta, se encostar à esquerda também forma maioria absoluta. A escolha sobre o lado a encostar tem prós e contras, mas um aspecto existe que é mais evidente que os outros. Se encostar à Direita fica com o papel de subalterno de bater as palmas e levantar o dedo, se encostar à Esquerda passa a ser o líder das decisões.
Como já referido, o resultado destas eleições veio ditar que ao fim de 40 anos as alternâncias sejam postas em causa e que se aponte para o início da época das alternativas. Das actuais alternativas três surgem como mais viáveis: ou, em linguagem popular, o PS (en)Costa à direita e deixa governar; ou, em terminologia naval, o PS dá Costa(do) à esquerda e governa; ou o PS vai para o Parlamento para se abster de fazer Política, pois sempre que votar contra as medidas do governo o caos instala-se.
Assim a responsabilidade ser-lhe-à atribuída por se abster e por votar contra e o fim pode ser uma trágica comédia análoga à do PDS na Alemanha e à do PASOK na Grécia.
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«Estádio Original», opinião de Luís Marques Pereira
Isto de maiorias tem que se lhe diga! ainda ninguém falou da forte subida de votos do B.E.; segundo eu julgo trata-se de uma faixa de eleitores chamada “flutuante” que como sabemos não está fidelizada a nenhum partido e que de acordo com as circunstâncias cai para um ou para outro lado, daí” flutuante”.
Pergunto eu :-porque é que foi parar ao B.E.? para mim é simples:-trata-se de um conjunto de eleitores que não queria votar na coligacão PaF., que também não queria votar no P.s. porque ficou cansada de disparates feitos na última legislatura do governo P.S., mas também se trata de gente que jamais quer votar P.C.P., daí restou uma hipótese ou seja B.E.
Dentro do P.S. há também uma faixa moderada que como sabemos nunca se quis juntar ao P.C.P. nem ao B.E.
Temos assim que ao formar uma coligação de P.S./B.E./ P.C.P., estamos a juntar eleitores que nunca em coligação proposta ao eleitorado votariam na mesma e isso é muito arriscado em particular para o futuro do P.S.
Resumindo, julgo que o Dr.Cavaco é talvez o principal responsável do que se está a passar porque estamos a dar uma imagem péssima do nosso país; pior que decidir mal é nada decidir, que é o que se está a passar.
O Dr.Cavaco, em vez de afirmar em voz alta que já tinha todos os cenários na cabeça, devia isso sim,dizer que no dia a seguir ás eleições chamaria o presidente do partido mais votado para formar governo, fosse ele qual fosse; se esse mesmo partido não conseguisse formar governo chamaria o 2º partido mais votado e com uma solução encontrada empossaria o 1º ministro -é isso a democracia.
Veja-se o caso dos gregos que estão piores do que nós, mas logo a seguir ás eleições foi o 1º ministro designado formou governo e avançou.
Infelizmente em Portugal, continuamos igual ao que sempre temos sido, ou seja para resolvermos um problema, em vez de encontrarmos uma solução, arranjamos mais dez problemas.