Desde 2011 que assistimos a uma profunda alteração no tipo de assistência social que o Estado presta às pessoas mais vulneráveis da sociedade.

A solidariedade pública e o dar a mão, sem perda de dignidade de quem a recebe, deu lugar à caridade assente na cultura das tradicionais instituições que propagavam a frase Deus, Pátria e Família e que tinham nas elites religiosas os seus maiores aliados. Contudo, na base dessa religião havia muitos missionários e revolucionários ao jeito de Cristo.
Infelizmente, os homens aprimoraram a doutrina de Maquiavel e hoje, para alguns, ser Cristão faz parte das regras que os políticos têm que cumprir, ou seja, o Cristianismo é como uma capa para a chuva, não faz parte do seu vestuário, mas de vez em quando dá jeito.
São esses impostores que, a troco de uns tostões ou de uns minutos de fama, se esquecem que durante quatro anos fomos governados por um bando de salafrários que roubou inconstitucionalmente o vencimento dos funcionários públicos, que despediu funcionários em sectores fundamentais, que encerrou milhares de empresas e que aumentou exponencialmente a emigração e o desemprego (bem disfarçado através das fórmulas de cálculo das respectivas taxas). Resumindo, roubou a dignidade do povo e empurrou-o para a caridade às mãos de umas tantas empresas, disfarçadas de associações assistencialistas, que vão vivendo à custa da sementeira de pobres que o governo efectuou e também da boa vontade e generosidade dos que nelas fazem trabalho de voluntariado.
A austeridade a que o (des)governo nos submeteu é por alguns tolos vista como uma necessidade, pois essa é a visão que foi passada de manhã à noite nos meios de comunicação. Mas, não será preciso ter os olhos muito abertos para ver que, os 8.000.000.000 de Euros enterrados pelo Estado no BPN e outros tantos, ou muito mais, enterrados no BES, chegariam para manter os mais desfavorecidos em condições de dignidade humana durante várias décadas. Contudo, a opção dos tiranos é deixar os filhos na miséria para pagar as dívidas de jogo ao vizinho.
As alegadas questões de honradez e de cumprimento, para justificar o sofrimento do povo, são um embuste, porque com o despesismo do Estado e com o financiamento de empresas fraudulentas os dirigentes não se preocupam. A razão desta austeridade é notoriamente a retirada de qualidade de vida às populações e a diminuição do preço do trabalho.
Mas a capa vai caindo e já esta semana ficamos a saber que a Ministra das Finanças deu ordem para se camuflar os prejuízos de 150 milhões de Euros que a Parvalorem acumulou. Esta empresa, conhecida por liderar o cambalacho da venda dos quadros de Miró, gasta por ano, com vencimentos de funcionários e especialistas, mais de 30 milhões de euros.
Esperemos que no Domingo o povo, que foi gratuitamente submetido a todos os sacrifícios, saiba optar livremente por uma cruz que garanta um futuro com mais solidariedade na distribuição de riqueza e de esforços.
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«Estádio Original», opinião de Luís Marques Pereira
Luís Marques Pereira:
Deixe-me dizer-lhe que estas eleições de Domingo próximo não irão contribuir para superar a crise económica em que vivemos, nem tão pouco a crise moral em que este país está submerso. Os pobres continuarão mais pobres, as classes populares e médias a serem espoliadas, Portugal não irá reaver a sua soberania económica e política, e quem ganhará com elas vai ser a oligarquia económica, a classe política e uma série de tipos que irão receber grandes favores do Estado, em dinheiro… Estamos num beco sem saída ! E a esquerda ? Poderá perguntar, dir-lhe-ei a minha opinião ; a esquerda de hoje, a que se arroga sobrevivente da antiga esquerda de outros tempos, está convertida numa peça de museu.
António Emídio