Na semana passada, tentei manifestar a minha revolta, pela forma como a Europa tem tratado as vagas migratórias de pessoas. A criança ali prostrada nas areias do Mediterrâneo, deveria ter o condão de alertar todos os cidadãos da Europa e do mundo.
Não o fez. Pois no dia seguinte, em Olhão – Portugal, decorria uma petição contra a construção de um centro de acolhimento de refugiados, com o argumento que, tal centro, prejudica o turismo em Olhão, no Algarve. Mais comentários para quê? É preferível deixar na miséria e à morte milhares de pessoas, para que não prejudique a estadia de meia dúzia de «camones». Eis a solidariedade em todo o seu esplendor!
Depois deste pequeno intróito, regresso à política. E muito se tem dito nestes dias. A começar pelo debate entre Passos Coelho e António Costa.
Mas antes, faço uma pequena resenha. Começo pela intervenção de Paulo Rangel. Segundo ele, se o PS estivesse no governo, não haveria investigação a Sócrates nem a Ricardo Espírito Santo. Lamentável. Parece que tal só acontece porque o PSD e o CDS estão a governar. Deixando entender que tal investigação só acontece por vontade política. Claro que não era esta a intenção do senhor! Mas é isto que deixa entender Paulo Rangel. E mais, que a Justiça balança conforme o poder político. Até porque, tal não é possível constitucionalmente. Pois existe separação de poderes. Quanto ao «ar democrático mais respirável», não esqueço as maiorias cavaquistas e a invasão do aparelho do estado pelos cartões laranja nem a tentativa de legislar sobre a cobertura dos Media, onde se procurava influenciar e controlar os media. O ar respirável, no que toca à democracia, anda muitas vezes poluído.
Depois, gosta muito o PSD de auto-intitular-se de reformista. E o actual vem para esta campanha com a bandeira das reformas que fez. Mas quais? A do mapa judicial? Para além de estar, ainda hoje, numa confusão, serviu, simplesmente, para o fecho de uma série de tribunais, de preferência no interior. A junção (ou extinção) de freguesias? Processo mal explicado e mal executado, com o único intuito de poupar uns trocos. A reforma da Educação? Serviu somente para o despedimento colectivo de professores, para o afunilamento do ensino público e o benefício do ensino privado à custa do erário público. A emigração de milhares de jovens? O desemprego? A saúde mais cara?… Onde estão as reformas? A não ser a que alguns que por lá andam estão a tratar ou aquelas em cortaram.
E chega o debate. Bom, a primeira impressão é que António Costa ganhou o debate. Ganhou-o porque foi mais acutilante, mais concreto e, pareceu-me, mais preparado para o debate. Passos Coelho não conseguiu defender as suas políticas. Não foi capaz de apresentar um programa para o futuro.
Aliás, a estratégia era (como não podia deixar de ser, pois Passos está agarrado a esse paradigma) de trazer o fantasma do socialismo e o que procurou foi trazer Sócrates para o debate, na esperança de que, falando do ausente, agitava uns pares de fantasmas. Enganou-se e engana-se. A luta com Sócrates foi há quatro anos. Numa altura em que Passos jurava e prometia que não aumentava impostos, não cortava pensões e salários… um rol de promessas que não cumpriu.
Ah! Esquecia-me que entretanto… apareceu a troika! A tal que, agora, só foi chamada pelo PS. Mas esqueceu-se de que ele também o assinou e até se gabava de que o texto tinha sido negociado pelo… PSD. Mas estamos habituados a estas faltas de memória, muito selectivas. Da mesma forma que se esqueceu de dizer que ele tinha aclamado à saciedade que o programa da troika era o programa dele e que procurava ir mais longe. A Ministra das Finanças até afirmou que a troika e o memorando era uma oportunidade para se fazerem as reformas. Mas enfim…
O debate foi, quanto ao conteúdo, pobrezinho. Não se discutiu nada sobre Justiça. Nada sobre Educação, sobre reformas do estado, política externa… muitos assuntos importantes.
É por isso que defendo que os futuros ministros deveriam ser conhecidos antes das eleições e deveriam candidatar-se nas listas dos partidos. Assim, teríamos debates sobre cada assunto específico com o respectivo candidato à pasta. Seria muito mais informativo, democrático e transparente. Mas para isso era preciso haver coragem. Coragem pessoal do candidato e coragem política.
Tenho assistido, via rádio, aos debates dos cabeças de lista por distrito. Parece-me interessante, mas pergunto para quê. No debate falam muito de assuntos do distrito mas, quando forem eleitos, diluem-se nos interesses do partido e o distrito que se lixe! Repito, preferia debates com os candidatos a ministros. Isso sim!
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«A Quinta Quina», opinião de Fernando Lopes
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