Não sabia, até há poucos anos atrás, que havia uma «Rota dos Casteleiros». Quando era garoto, não se usavam estas ligações do ontem ao hoje… os links. Quem precisava, subia por ali até à Serra da Vila e pronto! Mas hoje fazem-se muito esses links e eu aprecio isso de forma especial. Pois bem: saiba aqui hoje, se ainda não sabe, do que se fala quando se fala da «Rota dos Casteleiros» ou dos «casteleiros» com letra pequena.

Acho que seria mais isso: rota dos casteleiros (com letra pequena) e não dos Casteleiros (com maiúscula, como se houvesse várias terras com esse nome. Não, não é possível). Definitivamente será então a rota dos operários, artífices, artistas (era assim que dantes se falava de quem tinha uma profissão ligada à construção civil e obras: os artistas…).
Rota desses, dos que construíram o castelo… Será? Ou estamos perante uma mera invenção de «marketing», apesar das afirmações em contrário?
Mas vamos por partes…

Uma rota possível, sim
Não me custa nada a imaginar o seguinte dia-a-dia das pessoas da minha terra naqueles idos de 1220 e tal, no reinado de D. Sancho II: os senhores feudais da zona foram encarregados pelos emissários do Rei da construção do castelo. Vai daí, estes senhores fizeram o quê? Arregimentaram todos os adultos e se calhar até jovens e talvez crianças para ajudantes nas tarefas daquela construção gigantesca. Foram arrebanhar os casteleiros nas aldeias vizinhas que já existissem à data ali na zona – mas sobretudo no Casteleiro, que viria a ser o nome daquela localidade depois da construção do castelo.
A ideia que tenho é que por ali, no local onde hoje é o Casteleiro e nos arredores, haveria muita gente… E os fidalgos mobilizaram todos os que podiam trabalhar, de certeza.
Esses iam todos os dias às três ou quatro da manhã serra acima até lá, ao sítio da obra de construção do castelo, trabalhavam de sol a sol ou talvez mais – e depois toca de voltar pelo mesmo trilho.
Talvez para facilitar essa deslocação, e talvez pelo trilho já há mais de mil anos usado pelo Exército Romano…, eis que os fidalgos resolvem fazer uma calçada. É a Calçada Medieval que lá está assinalada serra cima. Fizeram-na, não para facilitar a vida aos aldeões, mas sim para rentabilizar o seu tempo e a obra: quanto mais depressa lá chegassem, melhor e mais depressa acabariam o castelo. Quanto menos cansados lá chegassem, mais rendiam no trabalho.
Iam de manhã e regressavam à noite: era ou não era uma rota dos construtores do castelo, os casteleiros?? Para mim, a coisa está explicada assim.

Agora o «marketing»
Nos dias de hoje, refez-se a ideia e a rota começa a ser um passeio, uma caminhada. Isso é saudável, é bom para as pessoas que fazem essa rota. Oxalá que pegue.
«Foi já criada e devidamente assinalada a “Rota dos Casteleiros”, um percurso pedestre que liga Sortelha ao Casteleiro, numa extensão de 5,8 Km, com duração prevista de duas horas. O percurso varia de uma altitude máxima de 770m (Sortelha) e 538m (Casteleiro).
Com início na Porta da Vila em Sortelha e chegada ao núcleo primitivo do Casteleiro no Reduto, este trajecto está inserido nos “Percursos pedestres do Concelho do Sabugal”, promovidos e divulgados pelo Município.
Uma iniciativa apoiada pela Junta de Freguesia que importa agora divulgar e que abre outra perspectiva na captação de novos visitantes à nossa Aldeia». Ainda bem.
E veja também esta descrição de caminheiros que de facto fizeram esta rota há uns tempos (Rotas e Raízes): «Não há muitos anos, a Calçada Medieval interligava a aldeia do Casteleiro à Vila de Sortelha. Todos os dias várias pessoas percorriam esse caminho para trabalhar, para ir às compras, para levar e trazer correio…era um trilho de serviço à população, ora a pé ora em carro de bois.
Com a chegada dos automóveis e transportes públicos, este caminho passou a ser menos percorrido até à sua inutilização. Os anos passaram, mas as histórias e recordações não esqueceram aquele trilho.
A vontade de reviver velhos tempos e recuperar tradições foi motivo para que o trilho fosse limpo e se marcasse um percurso que reconstruísse a história».
Outros caminheiros escreveram um dia assim: «É verão e apetece caminhar, por isso vamos lá pegar nas sapatilhas, roupas confortáveis, acordar bem cedinho e de garrafa de água na mão, porque é preciso hidratar, dar ao pezinho porque as terras são lindas (…) Hoje vamos falar acerca (da) Rota dos Casteleiros (…) Sapatilhas confortáveis calçadas, mochila às costas com bens essenciais que, no verão, deverão incluir água, protetor solar, fruta e uma barra energética, e um ou outro item que considere indispensável, afinal vamos andar pela natureza, e já agora, nada de deixar lixo por onde passar e cuidado porque estamos no verão e as matas começam a ficar secas, não queremos nenhum fogo pois não?
Começamos em Sortelha, terra linda deste concelho do Sabugal, o inicio é no Largo de Santo António, junto à estrada municipal. Atravessa este largo antigo com dois solares a sul, e saímos da aldeia. Espera-nos uma descida suave, por entre hortas e antigos olivais. Lá no alto podemos admirar a escarpa de granito e o castelo, imponente, que guarda as suas gentes como uma sentinela.
Se pensa que a caminhada está a ser tranquila e a dificuldade é «para meninos», a partir daqui irá começar a subir a ladeira íngreme em direção à «Porta da Vila», entrada principal da Aldeia Histórica de Sortelha.
Entramos neste mundo medieval, guardado pelo tempo, cheia de histórias e lendas para contar. Seguimos pela rua principal em direção a oeste e saímos pela «Porta Nova» para fora da muralha.
Aproveitemos para absorver alguma história com os vestígios medievais aqui presentes como as ruinas da Igreja da misericórdia e o antigo hospital.
Começamos a descer aproveitando uma antiga calçada medieval com alguns troços ainda visíveis. Executando uma pequena subida logo após a Quinta das Parturas, o percurso faz-se por uma descida suave, ladeada por carvalhos e matos rasteiros que nos acompanham até perto do Casteleiro.
No Casteleiro, já em terras da Cova da Beira, encontramos vários olivais. Chegamos à capela de São Francisco, no núcleo primitivo de Casteleiro. Cansados? Alguns sim, outros nem por isso. A beleza deste percurso merece o passeio! E agora? Voltamos para trás, porque não?»
Isto é que foi entusiasmo pela Rota dos Casteleiros abaixo, Rota dos Casteleiros acima novamente. Voltem sempre!
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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JCMendes:
É possivel que a chamada “rota dos casteleiros” seja efectivamente o caminho percorrido por quem construiu o Castelo.Por isso concordo com o seu ponto de vista.
É que durante muitos séculos, mesmo o nome das pessoas aparecia ligado à profissão ou melhor a profissão fazia parte do nome (António Funileiro, Manuel Ferreiro, Joaquim Alfaiate)
Quanto ao marketing, cada vez mais temos necessídade dele para nos ajudar a “vender” aquilo que de melhor temos, e assim recolhermos os proveitos dessa “venda”.
Um abraço.
JFernandes