«Quando o melro canta em Janeiro, temos seca o ano inteiro» – é um ditado popular que traduz um tempo mais quente em Janeiro e que acaba por conduzir a que tendo menos chuvas tenhamos piores colheitas.
Os melros, são mais uma das aves que povoam a nossa região. Melhor, os melros habitam em todo o território nacional, onde permanecem durante todo o ano. Esta ave não possui nenhuma característica especial, antes primando pela vulgaridade e frequência que com ela nos podemos cruzar.
Os machos apresentam-se com uma plumagem negra e o bico alaranjado intenso. As fêmeas possuem plumagem acastanhada e malhada e possuem bico castanho ou levemente alaranjado.
O canto do melro é mais intenso e frequente na época do acasalamento que ocorre normalmente entre Fevereiro e Junho. Quando acontece mais cedo, como no início foi referido, o ano por norma é mais seco o que não é bom.
Recordemos o canto do Melro, mais frequente na parte final do dia, perto do pôr do sol (aqui).
O melro distribui-se por todo o território, e o seu habitat é variado, tendo no entanto preferência por zonas húmidas e de vegetação densa. Por isso é nas margens dos rios e ribeiros que mais frequentemente se vê.
Alimenta-se à base de insectos que apanha no chão, por norma debaixo das folhas nos bosques. Também é consumidor de frutos silvestres, amoras, e também pequenos invertebrados como tritões, lagartixas e girinos.
Os melros podem realizar 2 ou 3 posturas em cada ano, e por isso no limite podem reproduzir-se outras tantas vezes. Como cada postura tem em média 3 a 4 ovos, se
todos vingarem em todas as posturas, a relação correspondente à reprodução será de 2:12 ou seja 1:6.
Uma relação reprodutora de 1:6 é suficiente para garantir e até aumentar a população de melros mesmo tendo em conta aqueles que por razões naturais ou de caça acabam por perecer. Por isso, os melros não necessitam de qualquer protecção especial, mas também não se transformaram numa praga.
Os ovos são de uma cor verde clara pintalgada e são quase sempre chocados apenas pela fêmea. Os ninhos dos melros são verdadeiras obras de arte e engenharia e localizam-se quase sempre relativamente perto do solo mas não no solo. Diria que entre 1 e 3 metros do solo em árvores pequenas ou mesmo arbustos.
Por norma, os melros fazem intervir na construção do ninho para além de palhiço, também lama. Esta depois de seca acaba por dar ao ninho uma consistência que não teria se apenas fosse usado palhiço e folhas.
O melro em Portugal continental é uma ave residente. Durante o inverno verifica-se nalgumas zonas um acrescentar da população com elementos vindos de zonas mais frias do norte da europa. Os casais de Melros por norma são fieis e monogâmicos havendo no entanto principalmente nas aves migratórias, alguns casos de poligamia.
É uma ave que prima pela solidão, sendo praticamente impossível observar aves em bando a não ser em zonas muito especiais, como acontece por exemplo na Ilha do Corvo nos Açores. Em muitos países é permitida e está regulamentada a caça a esta espécie de ave, incluindo em Portugal (aqui). Por norma a caça é permitida quando as espécies não se encontram ameaçadas.
A relação entre a população rural e os melros é boa talvez pelo facto de os melros se alimentarem principalmente de insectos e minhocas o que não provoca qualquer concorrência com os produtos alimentares.
Muitas vezes se confundem melros com os estorninhos principalmente os menos atentos. No entanto, as diferenças entre ambas as espécies são de tal modo grandes que, diria eu, de semelhante apenas têm a cor das penas. Na verdade basta olhar para uns e outros com atenção para dúvidas não existirem
Nem todas as aves pretas são melros. Os estorninhos para além de serem muito mais atléticos que os melros, são ligeiramente mais pequenos. No entanto, possuem uma energia contagiante que utilizam no bater das asas quando voam. Aliás, o voo dos melros é relativamente lento e planado; os melros batem as asas relativamente devagar, provocando um voo ondulado e por norma perto do solo.
Os estorninhos voam de forma ríspida e rápida, provocando com o bater das asas um barulho característico, por norma acompanhado de um chilrear igualmente agressivo. Voam quase sempre a altitude elevada e quase sempre em bandos de muitos elementos.
Os estorninhos são aves migratórias. Aparecem no território continental quando o tempo começa a aquecer e emigram durante o inverno. Mas sobre os estorninhos falaremos noutro texto, numa próxima altura.
:: ::
«Do Côa ao Noémi», crónica de José Fernandes (Pailobo)
Um ótimo trabalho.