O Armindo herdara do pai, senão já dos avós, a alcunha de Manhonho e foi criado numa quinta à Escaleira, à beira da Ribeira. Do pai herdara também aquela voz fanhosa a sair pelo nariz.

Como quase todos os quadrazenhos, emigrou para França, que a vida de pastor e o produto da quinta não davam para viver com desafogo.
Num Verão em que veio visitar a terra foi a uma tourada à vara larga, ou capeia, a uma terra vizinha. Entretanto deu-lhe vontade de urinar e foi fazer o serviço a um curral para onde iriam os bois após serem corridos, em frente àquele onde estavam os bois que ainda iriam ser corridos.
Estava o Armindo de gaita na mão quando abrem a porta do curral para entrar o boi acabado de correr. Vê o boi o Armindo e investe contra ele. O Armindo, de gaita na mão, qual pistola apontada ao boi, grita-lhe:
– Ai! Filho dum corno! Ai! Filho dum corno! No fui eu! No fui eu! – referindo-se a quem havia picado o boi.
O boi, parecendo ter percebido as palavras do Armindo, estaca e pensa uns instantes se o pai havia sido corno. Foi o suficiente para o Armindo se escapar.
Não sei se já tinha acabado de esgotar a bexiga. Se não, tê-la-à esgotado calças abaixo, que não houve tempo de meter a gaita no lugar e abotoar as calças, que o susto tinha sido grande.
Doutra vez, em França, já casado com a filha do Tchantcha, encontra o Julinho e pede-lhe um dinheirito emprestado, que este já se lhe havia acabado, gastador como era. O Julinho, que já lhe conhecia os hábitos de gastador, nada lhe emprestou.
Para sacar algum dinheirito à Tchancha, ao chegar a casa dirige-se a ela e pede-lhe dinheiro para pagar o empréstimo do Julinho.
No dia seguinte encontra a Tchancha o Julinho e diz-lhe:
– Bem sei que emprestaste um dinheiro ao Armindo. Tenho que to pagar. Aquele ladrão gasta-me tudo.
Fez-se de orelhas moucas o Julinho, querendo apurar a história.
Encontra o Armindo e conta-lhe o que se passara com a Tchancha. O Armindo pede-lhe que diga que lhe havia emprestado quinhentos francos, já que ela não lhe dava nada.
Em casa diz à mulher que havia recebido quinhentos francos do Julinho e aquela dá-lhe os quinhentos francos para pagar ao Julinho, acompanhados do habitual sermão:
– Nem mais um tostão, seu esbanjador, que me arruínas! Não peças mais nada a ninguém, que eu não pago nem mais uma dívida tua!
O Julinho volta a encontrar o Armindo e pergunta-lhe:
– Então, deu-te os quinhentos?
Mostra-lhe o Armindo o bolso da camisa onde tinha os quinhentos francos e atira-lhe:
– Tchancha borrada! Tchancha borrada!
A Tchancha tinha sido enganada.
Outra história que se passou com o Armindo…
Logo a seguir à guerra civil espanhola, por haver falta de quase tudo em Espanha, muitos quadrazenhos atravessavam a raia transportando muitos bens alimentares ou para outras necessidades.
O Armindo Manhonho, em parceria com o Tó Terrá, dedicou-se à venda de remédios para matar insectos, tais como os bichos das batatas e os piolhos. Certo dia, por já não ter remédio contra os piolhos, adquiriu semente de couve e vendia-a em Espanha como remédio para os piolhos. Uma velhota que lho comprara, pediu-lhe informações sobre como usá-lo:
– Como mato los piojos con esto?
– Usted coje el piojo, le abre la boca e le mete eso dentro de la boca! – respondeu-lhe o Armindo.
– Pero, se yó cojo el piojo com la mano, lo mato en la uña!
– Bueno, mate-lo como usted quiera.
E o Armindo, com o dinheiro já no bolso, desapareceu de cena.
Notas:
Curral – lugar onde se guarda o gado; anexo em frente da casa onde se deita palha para fazer estrume.
No – não.
Leave a Reply