Para manter a capeia enquanto tradição popular viva e mobilizadora são necessários avultados meios financeiros, pois só assim é possível fazer face às exigências organizativas ligadas à segurança e à qualidade do espectáculo.

A capeia é a tradição sabugalense mais genuína, por ser uma manifestação popular única no mundo que envolve a participação activa e apaixonada das gentes raianas.
Parte do público que frequenta as capeias é também actor, pois ajuda no corte e preparação do forcão, mobiliza-se para fechar a praça, colocar vedações de segurança, montar os bares, e, no momento do espectáculo, saltar para a praça, agarrar ao forcão e correr a desafiar os touros, participando na contagiante emoção.
A capeia tem todas as condições para atrair uma crescente atenção sobre as terras onde se realiza, servindo de bandeira a um concelho e proporcionando-lhe convivialidade e animação. Mas para manter a dinâmica e a continuidade da Capeia enquanto espectáculo popular mobilizador, é necessário garantir-lhe capacidade para obter crescentes meios financeiros.
Há porém quem clame contra a «mercantilização» da Capeia, denunciando o «negócio» como uma espécie de sacrilégio. Esta visão é anacrónica, porque a capeia sempre foi mercantil, pois só assim sobreviveu enquanto espectáculo popular e apenas dessa forma poderá manter-se no futuro. A alternativa a este caminho é a do financiamento com fundos públicos, e essa não parece ser a melhor solução nos tempos que correm.
À Câmara Municipal cabe um papel importante, sobretudo ao nível da divulgação, do incentivo à melhoria das condições de segurança e do fomento do diálogo entre as diferentes comunidades que sustentam a tradição. O papel financiador para a simples realização do espectáculo deve porém evitar-se, ainda que possa existir face a dificuldades pontuais que cabalmente o justifiquem.
A capeia é, e será cada vez mais, uma oportunidade de negócio. Desde logo para os ganadeiros que fornecem os touros bravos, para os músicos que animam a festa, para os fornecedores de bebidas, para os que instalam aparelhagens sonoras, imprimem cartazes, fornecem camisolas, porta-chaves, e toda a panóplia de brindes. Até para as unidades hoteleiras, restaurantes, bares e tendas de venda ambulante, a capeia proporciona receitas dado o manancial de gente que acorre ao espectáculo. E as comissões e mordomias, precisando de garantir os proventos que supram as imensas despesas, lançam mão ao que podem para o garantir, vendendo brindes, rifas, lugares especiais nas bancadas improvisadas e explorando bares e cozinhas anexas ao espectáculo.
A mercantilização da capeia é afinal uma necessidade premente, ligada à sua própria sobrevivência enquanto tradição viva e mobilizadora.
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«Contraponto», opinião de Paulo Leitão Batista
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