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Página Principal  /  Terras do Jarmelo  /  Assim, eu próprio, me revisito
22 Julho 2015

Assim, eu próprio, me revisito

Por Fernando Capelo
Fernando Capelo
Terras do Jarmelo fernando capelo Deixar Comentário

Consumo, de quando em vez, tempos mergulhados em anonimatos espessos que enchem praças e ruas. Tal constatação poderia ser suficiente para que eu preferisse ambientes harmonizados pela quietude aldeã e rural onde reencontro caras conhecidas e sorrisos francos ainda que, ultimamente, já associados a rugas que sulcam os rostos nos arredores de olhos. Trata-se, mesmo assim, de olhos brilhantes, apesar da muita idade e das muitas adversidades.

Há lugares que sempre me inspirarão regressos

Falo de rostos de muitos sóis, enrijados por muitos frios, estriados em rugas de meia lua. Refiro-me àquelas rugas que, apertando os olhos, se transformam em montículos floridos de pele seca mas graciosa.

Nessa ambiência, que hoje aqui tento retratar, ainda se vivem horas sadias embora, quiçá, mais viradas para o passado.

Algum desse tempo é feito de convívios onde se bebe um copo num largo gole, seguido de outro e de um outro e onde escorre, de quando em quando, um sorrateiro café. A «bica», essa tal modernice castanha, fumegante e encimada de creme, já começa, nos meios aldeãos de hoje, a apaladar a boca e a preparar o ânimo para assentar velozmente as cartas na mesa, ao correr de uma bisca veloz e silenciada porque, diz-se, o jogo das cartas foi inventado por quatro surdos.

Esta gente, que é a minha gente, habita os sítios onde ainda se experimentam aromas delicados e levemente estonteantes, lugares onde se sentem essências que correm inspiradas na natureza. Quando revisito a minha gente, ainda me bafeja um tempo que quase se foi em esquecimentos mas que recordo como um tempo em que habitei temores enganados.

Se alguém quiser ou puder visitar estes sítios e procurar paz e sossego, poderá experimentar a lenta e agradável placidez do estar.

Por aí, por esses lugares que sempre me inspirarão regressos, o que mais parece voar é o olvido embora também voe uma certa glória esmorecida. No entanto, resistem, ainda, voando as ninfas subtis, as luzes finas e vêm-se, às vezes, muitas e muitas flores rubras e de outras cores.

São voos que planam velhas geografias deslizantes e líricas. Sobre elas se verifica uma irrupção rumorosa e aprazível da brisa que refresca a memória. Por aí segue um leve vento que bate às janelas e rasa a névoa de uma imensidão de lembranças.

Assim, eu próprio, me revisito.

Revisita-me um ameno bem-estar e, na justa medida em que a angustia me vai abandonando, recomeço a acreditar na vida, desprezando solidões e recuperando imagens coerentes e muito intensas.

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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo

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