Tenho andado nos últimos tempos a esforçar-me por passar ao lado de escrever sobre a Grécia. Não por achar que não é importante mas, antes pelo contrário, porque acreditava que o resultado seria a permanência da Grécia na União Monetária Europeia.
1 – Acreditava que esta era a oportunidade da União Europeia repensar a sua estratégia política, corrigindo atitude prepotente e inócua perante a o esboroar dessa ideia que foi a criação da União Europeia. Durante seis meses, o tempo que duraram as negociações, não foi possível encontrar uma única ponte entre as instituições europeias e um dos seus membros?
Como pode isto acontecer numa Europa de nações, democráticas? Pode, quando o que está em causa é somente a visão de um país (ou do seu ministro das finanças) e nas cúpulas das instituições estão mentecaptos, cuja capacidade intelectual é o curvar da espinha perante Alemanha. A vontade do povo grego foi questionada e, perante a sua livre escolha, a resposta que recebe dos seus parceiros é a humilhação. O acordo a que chegaria a Grécia e União Europeia, acreditava eu, seria um passo na enorme ambição dos europeus (falo das pessoas reais) que é a da criação de uma verdadeira união Europeia.
Mas o que fez a Europa foi espezinhar a Grécia, obrigando-a aceita um acordo pior do que aquele que esteve na base da convocação do referendo. As condições impostas à Grécia recordam-me assinatura do Tratado de Versalhes. A prepotência, a gula e o solipsismo, sobrepuseram-se à solidariedade e ao respeito do mais básico princípio do humanismo. O que poderemos chamar à imposição de um novo resgate, o terceiro, quando os dois anteriores se revelaram um fracasso? Teimosia? É o mesmo que insistir num remédio para uma cura quando se verifica que é ineficaz.
O resultado terá consequências no futuro. Mesmo reconhecendo erros da parte do governo grego, e muitos, não posso colocar no mesmo prato da balança fracos e fortes. Os erros da parte do governo grego não justificam atitude da parte das instituições europeias. Se esta é a cartilha da União Europeia, quo vadis Europa?
2 – Por vezes posso parecer demasiado picuinhas com determinados aspectos da política. Primeiro, porque acredito que ela é uma actividade que tem como pressuposto o ser um acto livre. Segundo, o exercício dessa actividade só pode ter como objecto o serviço da causa da res publica. Por isso me causa urticária o carneirismo a que se assiste na Assembleia da república. Quando se está ao serviço, não da res publica, mas da res patidária, o resultado é mau para a democracia e par os cidadãos.
Isto a propósito do novo códice de obediência do deputado aprovado no PSD, que obriga a renunciar em caso de divergência persistente. Quo vadis democracia?
:: ::
«A Quinta Quina», opinião de Fernando Lopes
Leave a Reply