A tese de que o concelho do Sabugal está destinado a um definhamento irreversível é profundamente redutora e estranguladora. A análise de quadros sociais futuros nunca determinará o nosso presente.

Quando pensamos no amanhã temos de assentar no passado e presente.
A irreversibilidade do determinismo é uma ideologia construída para desculpabilizar décadas de passividade e falta de intervenção acutilante e capaz. Não alinho no conformismo, apesar de atender à dificuldade crescente em reverter processos de isolamento, exclusão, despovoamento e envelhecimento territorial. O fatalismo e o fado fazem parte da alma lusitana, mas seria bom que nas nossas gentes do Côa, nas gentes da Raia e nas gentes das terras quentes do nosso concelho, a vontade e o querer em acreditar fossem mais fortes do que as vozes do comodismo.
A história das nossas gentes não poderá revestir-se simplesmente de uma mala e um bilhete para além fronteiras. O desinvestimento deve-se hoje não à falta de vontades mas ao desinteresse para com quem reside aqui. Gentes estas que teimam em ficar. Gentes estas que teimam em habitar nas nossas terras cada vez mais despidas de vozes e de rostos. Não fazemos deste nosso concelho um lugar de passagem mas fazemos dele um lar, onde todos nós nos sentimos uma família porque nos conhecemos. Porque nos tratamos pelo nome. Porque nesta nossa casa, que é o nosso concelho, não somos doutores, mesmo que o sejamos. Neste nosso lar somos um rosto e uma pessoa. Em qualquer aldeia, em qualquer parte deste nosso concelho estamos em casa. Não somos daqui porque nascemos cá. Somos de cá porque queremos crescer aqui e porque é daqui o nosso coração.
Perspectivando o futuro somos confrontados com tantas incógnitas.
Existem tantas desculpas para o ponto em que nos encontramos. Até há quem procure reinventar algumas estratégias, procurando apagar da memória projectos megalómanos, até hoje mal explicados.
Neste presente que é o «hoje» temos de delinear o nosso futuro. Temos história passada é certo, mas quem vive por cá quer ter um futuro. Não precisamos de ideias avulsas, irrealistas, que conduziram a tantos devaneios. Precisamos de acções que vão ao encontro dos rostos em concreto das nossas gentes. Gentes estas que pagam o salário dos que simplesmente se sentam nos gabinetes a traçar riscos em desenhos de futuros tristes. Se são tão tristes os seus desenhos que disponhamos de novos arquitectos e engenheiros, capazes de trazer um sorriso a este nosso lar que é o nosso concelho.
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«Desassossego», opinião de César Cruz
César :
Atrás de tempo, tempo vem, um dia todo este Concelho será diferente, o que acontece é que as pessoas da minha geração já não verão nada disso ! Eu, e todos eles, veremos dois ou três caciques, não estou a dizer que sejam políticos ! Na sombra a ditarem leis. A história não se faz em dois dias, para perdermos dois terços, ou mais da população, necessitámos de 65 anos ! Para os readquirirmos serão necessários outros sessenta e cinco atendendo á maneira que a U.E. e Portugal tratam os jovens. Sou um Velho do Restelo, mas esse enganou-se, e nada me faria mais feliz do que enganar-me também…
António Emídio