Ser velho não é nenhuma mancha nem nenhuma impureza, e muito menos uma vergonha. Ser velho é um dom da natureza e do destino.

Ainda me lembro de quando vivi em Lisboa não haver nos transportes públicos nenhum dístico que dissesse para ceder o lugar aos mais velhos, era uma lei não escrita. Agora, são os jovens os primeiros a correr para apanhar os lugares sentados.
Os próprios Estados estão a ser pressionados pelos «grandes especialistas» em pensões a soldo da banca e dos seguros, no sentido de se verem livres dos cidadãos já velhos retirando-lhes as pensões, um direito depois de uma vida de trabalho, e o acesso gratuito à saúde, tudo para os obrigar a planos de saúde e reforma controlados por esses mesmos bancos e companhias de seguros, ou seja, em vez de uma velhice feliz e com alguma qualidade de vida, será uma velhice de angústia, sofrimento e medo. Medo de quê? De um dia se verem abandonados e sem dinheiro, porque os seus magros haveres foram investidos numa qualquer especulação borsátil, e perdidos como numa qualquer mesa de casino.
Sendo assim, podemos dizer sem errar que um dos sectores que mais está afectado pelo culto da competição e da concorrência, são as pessoas idosas, consideradas um estorvo por uma casta de ambiciosos e egoístas, dizem eles que numa sociedade como a actual, que exige velocidade, dinamismo, exibicionismo desportivo e hedonismo, já não há lugar para aqueles que estão a chegar ao fim da vida, já não têm «filtro», dizem também eles, estão malucos… Isto é um fenómeno que tem origem nos Fascismos europeus, Hitler e Mussolini cultivavam na sua ideologia fascista o culto à força e à juventude.
O desprezo pelos mais velhos chegou a tal extremo que a partir dos 45 anos de idade, ou até mais cedo, qualquer homem, ou mulher, por muita qualificação que tenham já se torna difícil encontrar um emprego. Mas o problema é que quanto mais jovens são os executivos das grandes empresas, com a sua agressividade, falta de escrúpulos, audácia e espírito de luta, aqui também entram muitos políticos, mais as coisas andam pior, a começar pela economia.
Hoje há muita riqueza material, mas também muita pobreza espiritual, insensibilidade e desumanização.
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Não podia, neste artigo deixar de me referir ao trabalho das Misericórdias com os seus lares, sem eles, falo agora nos do Concelho do Sabugal, o que seria dos nossos idosos? Portanto, desde os Provedores até aos funcionários mais humildes, só têm de se alegrar em poder assistir e cuidar de pessoas de idade, dos velhos.
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«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2008)
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Boa noite.
Ser velho é como ter uma doença contagiosa que pode ser passada à sociedade.
Ser velho é segregar-se a si próprio quando os outros já o segregaram
Ser velho é pesar mais do que pesam os novos
Ser velho é receber dos mais novos ofensas e baboseiras pretensamente modernas
Ser velho é não ser novo
Ser velho é em muitas situações ser tudo o que, ser velho, não devia nem podia ser.
Apesar de muitos entenderem que ser velho é tudo o que antes refiro, quantos desses, não fazem tudo para ser velhos? Pois é: Um dia também todos nós seremos velhos. E, estou certo que nenhum gostará que o tratem como ele agora trata os velhos.
Chega de hipocrisia.
jfernandes