Ontem e hoje, sábado e domingo, 2 e 3 de Maio, foi a «Festa da Caça» no Casteleiro. Vou dizer-lhes de que se viveu na animação da terra e pedir-lhe que esteja atento às reportagens que aparecerão. E eu, durante a semana, prometo que actualizo o artigo através de comentários, ao longo da semana – logo que possível. Hoje, com a internet, tudo isto é possível…
A Festa da Caça está a acabar no momento em que esta crónica será publicada. Para termos fotos e notícias da Festa, devemos seguir por… (Aqui.) e por… (Aqui.)
Mas, enquanto chegam e não chegam fotos e notícias da Festa da Caça, vamos a umas linhas de assuntos bem do Povo da minha terra: a sua forma muito característica de falar – desde que me conheço que oiço estes termos.
E sempre achei a isto muita piada. Além disso, dou-lhe a estes termos mais importância do que a que vejo noutras pessoas: acho que a maneira de o Povo se exprimir tem para mim dois valores incluídos: a abrangência da maioria das palavras; e o facto de eu achar que quase todas se enquadram em termos eruditos antigos – mas com regras muito especiais de evolução que um dia gostaria de ver estudadas. E constatadas: isto tem sido uma das minhas linhas de pensamento. Exprimi estas ideias em tempos no «Viver Casteleiro».
Linguajar antigo com piada
Sempre me deliciou a maneira como os nossos mais velhos falam e falavam.
Quanto mais entrava pelo estudo fora, mais percebia o que estava em cima da mesa quando alguém chegava e dizia: «A marrana anda barronda!»
E sempre procurei perceber de onde vinham aquelas palavras que não estavam no dicionário. Umas vezes percebia, outras nem tanto. Muitas vezes intuo de onde devem vir as palavras em causa – mas muitas vezes não consigo. Mas continuo a intuir outra coisa: é que a caminhada das palavras será sempre interessante.
Querem ler alguns exemplos? Vamos a isso.
Mas, antes de mais, umas notas sobre pronúncia propriamente dita:
– na nossa terra pronunciava-se «tch» em vez de «ch» (por exemplo: «tchave» por «chave»);
– dizia-se «ais» no final das palavras em vez de «agem» (em «lavagem», por exemplo: «lavais»);
– pronunciava-se «ê» por «ei» (em «rosêra», em vez de «roseira», por exemplo).
Agora alguns vocábulos típicos do Casteleiro
Irvais (por ervagem, penso) – lameiro, pasto para os animais.
Lapatchêro (por lapacheiro,acho, seja lá o que for: não encontro no dicionário) – lamaçal, água entornada no chão.
Gatcho – cacho de uvas (trata-se apenas de uma corruptela na pronúncia: o abrandamento de consoantes, de c para g neste caso, é muito frequente na linguagem popular).
Pintcho – fechadura.
Cortelho – pocilga, local onde permanecem os animais (chamo a atenção para o seguinte: no Minho, pelo menos, chamam «corte» – leia-se côrte – às pocilgas. Ora, pela proximidade de Castela, a nossa palavra «cortelho» pode resultar de um diminutivo de corte – o que em castelhano se escreveria, hipoteticamente, «cortello»… Sei lá…).
Sampa – tampa de uma panela (esta é muito boa…).
Azado, azadinho – jeitoso (leia o primeiro «a» aberto, como se tivesse um acento: «àzado».
Cotear – usar muito.
Frintcha – abertura estreita.
Cote – uso. Mas há duas expressões antigas com piada: o fato dos domingos era o fato domingueiro, o da semana era o «da cote». Leia «dà cóte» e faça sorrir os seus mais velhos lá de casa.
Limbelha – metidiça, que quer saber tudo (ponho no feminino porque era mesmo usado só para as raparigas e para as mulheres).
Atchaque – maleita, doença
Assêqui (esta é muito bem apanhada) – dizem que, parece que, consta (de: «Eu sei que», acho).
Pantchana – enrascado.
Delido – desfeito (por exemplo, um peixe quase podre está mesmo «delido»).
Notas
1. As fotos de idosos do Lar do Casteleiro, agradeço-as a Anabela Alexandre, membro do corpo técnico da instituição.
2. Consulte todos os dias «Serra d’ Opa», gazeta regional: no Facebook… (Aqui.)
3. Visite e faça-se membro do Grupo Aberto e Público do Facebook chamado «Descendentes do Concelho do Sabugal»… (Aqui.)
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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O prometido é devido: veja aqui as fotos da Festa da Caça deste ano já disponibilizadas:
– https://www.facebook.com/viver.casteleiro/posts/805715102852512?pnref=story
– https://www.facebook.com/leonor.caldeira.98/posts/805714692852553?pnref=story
– https://www.facebook.com/viver.casteleiro/posts/821674841202751?pnref=story