Alziro Vicente Mateus Galante, filho de Manuel Galante e de Cacilda Mateus, nasceu a 25 de Maio de 1928 na Freguesia da Orca (Fundão). Era o quarto filho de um agregado familiar com oito irmãos.
Ainda frequentou a Escola Primária, obtendo o terceiro grau (terceira classe), mas como era necessário ajudar o pai depressa abraçou a profissão de pedreiro. Naquela época, quase todas as habitações eram construídas em pedra, com o bom granito das nossas Beiras.
Em 1967, graças às explicações do Prof. Dr. Joaquim Candeias da Silva, obteve o exame do quarto grau (a quarta classe).
Além de ajudar o progenitor, nas horas de folga e principalmente aos fins-de-semana, deslocava-se com a irmã Maria Rosa Galante à zona da Mata da Rainha, onde decorriam prospeções mineiras, e, um pouco à socapa peneiravam o cascalho; lá encontravam umas preciosas pedritas de volfrâmio, que vendidas sempre aumentavam o pecúlio familiar.
Talvez devido ao tilintar desse famoso minério, revelou-se nesta fase da sua vida uma tendência e vocação auditiva para a música. Para alimentar esta paixão comprou uma harmónica por quarenta escudos, contando com a ajuda financeira da sua irmã e do seu pai. Adquiriu-a ao Tio João Candeias, em segunda mão. Durante um ano não lhe deu descanso: ensaiou, praticou e aprendeu a manuseá-la totalmente.
Ao fim de um ano de exercício musical, comprou uma concertina que tocava como um verdadeiro profissional. Todas as semanas era solicitado para abrilhantar os bailaricos, na Orca e nas freguesias vizinhas.
Aos 18 anos, deixou de trabalhar com o pai e iniciou a profissão de acordeonista, que o acompanhará até aos 85 anos. Não faltavam solicitações para atuar em festas, bailes, casamentos, arruadas, arvoradas e inspeções militares (lembro-me bem das idas às sortes, do «tirar o número» – os mancebos aprovados para o cumprimento do serviço militar ganhavam o estatuto de homens, de varões admirados e disputados pelas moças conterrâneas).
Com as receitas conseguiu comprar um acordeão – RANKO – instrumento musical que será o fiel companheiro de toda a vida.
Na sua carreira de tocador de acordeão, colaborou com vários Ranchos Folclóricos; tocou juntamente com a Eugénia Lima no Conjunto «Trio Cova da Beira», com a colaboração de Armando Capelo; durante vários anos foi o animador musical no Convívio dos Fundanenses, no almoço da lampreia em Belver; gravou vários CD’s: Covilhã Cidade Neve, Arraial Algarvio, Lisboa a Paris, Quando Deus Cheira as Rosas são algumas das músicas. Na parte final da sua vida deslocava-se gratuitamente a lares da terceira idade e participava nalguns eventos sociais.
A atividade musical deu-lhe amplitude e fama inigualável e surgiram as invejas de alguns medíocres. Não é por acaso que Camões termina «Os Lusíadas» com a palavra inveja, tão característica de muitos portugueses. Quando alguém tem sucesso e fama profissional, nada melhor para a combater que o lançamento de boatos. Inventava-se que o Acordeonista Alziro Galante tinha assassinado a esposa (a mulher ainda reside na Orca) e assim ninguém contratava o tocador «criminoso». O Tio Alziro, que cumpriu o serviço militar na Escola Prática de Engenharia em Tancos, aprendeu cedo que «o boato é a arma do inimigo».
Além de bom manejador dos botões do acordeão, sabia também fazer reparações de máquinas de costura, principalmente da marca Singer muito em voga.
Graças a empresários de Alfaiates (Sabugal), instalados na Amadora, tornou-se agente dessa marca na Zona da Beira Baixa. Mais tarde, com algum poder de compra, já comprava e reparava por conta própria, começando a ter os seus próprios agentes em muitas freguesias do Distrito de Castelo Branco.
A mota que transportava o acordeão carregava amiúde máquinas de costura, veículo mais tarde substituído por uma carrinha Renault 4L.
No dia 20 de Abril faz dois anos que se calou o acordeão do Tio Alziro Galante, que levou o nome da Orca aos confins de Portugal e do Mundo. Os seus habitantes nunca mais o esquecerão. Para perpetuar a sua memória tem nessa freguesia um Anfiteatro com o seu nome, e esperemos que também na toponímia local se assinale a sua passagem.
Paulo Fernandes afirmou há pouco tempo que «Alziro Galante foi um dos maiores embaixadores do Concelho do Fundão, levando a música da Beira Baixa além-fronteiras».
Um conterrâneo afirma que «divulgou por todo o lado o nome da nossa terra, a Orca. Hoje teria a projecção e repercussão do Toni Carreira».
José Pires Barroca, proprietário do café «Verdinho» no Fundão, diz que «foi o melhor acordeonista de todos os tempos. Só a Eugénia de Lima é que seria melhor, mas teríamos de a colocar ao seu lado para saber. Era um mestre».
Deixo-vos com o testemunho de um cidadão da Mata da Rainha: «Lembro-me deste acordeonista desde a minha mais tenra infância. Era o virtuoso do acordeão; era aquele que todos queriam ter o privilégio de ouvir; foi aquele que contribui para abrilhantar festas e espalhar alegria nas aldeias e vilas da Beira Baixa. Ganhou a vida tocando o seu instrumento de eleição, com a garra dos predestinados. Enquanto artista, agora que nos deixou, que a terra lhe seja leve, como leve e feliz, por horas ou dias, é a vida de muitos homens e mulheres da nossa Beira Natal.»
A vida humana é passageira, a obra musical do Mestre Acordeonista Alziro Galante é eterna.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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Mestre inesquecível, amigo de fazer bem e de ensinar, com quem tive o prazer de partilhar muitos e bons momentos na sua casa, que a sua memória seja preservada por muitos e longos anos.Francisco Chasqueira (Alpedrinha/Lisboa)
Não sabia nada acerca deste senhor.foi hoje que um espanhol de nome isac piris me falou de Alziro Galante. É assim com pesquisar..e gostei…
Mi gran amigo alziro galante pai que buenos momentos vividos que Dios lo tenga en gliria
Muito bem. Abraço de um Orquense!