É Páscoa, mas quem comerá o borrego? Quem sairá efetivamente do caminho do calvário agravado diariamente pelas questões sociais? É tempo de passagem, de mudança. Mas será para todos? Em tempos de Páscoa, mais do que certezas subsistem maiores dúvidas!
Numa altura em que celebramos a Páscoa, Pessach (do hebraico «passagem»), também conhecida como a «Festa da Libertação» e da «Ressurreição», seria bom interpretar os sinais dos tempos e verificar se efetivamente a nossa sociedade consegue fazer essa «passagem». Não me refiro às conotações interpretativas religiosas mas às invocações societais.
Na verdade a simbologia religiosa apela para uma «mudança», mas ainda se encontra, ela própria, aprisionada em pesados grilhões. Ao invés de oferecer mão e voz coniventes com ideologias destruidoras do ser humano, poderia e deveria ser um agente efetivo de libertação e de renovação.
É Páscoa sim. Mas quem comerá o borrego? Lembro-me neste momento dos desgraçados que se encontram no «fio-da-navalha», que baixando à mais vil condição dos ditos humanos, se deixam imolar para servirem de alimento em faustosos banquetes de nobres senhores que, esses sim, vivem acima das reais possibilidades da maioria.
O desemprego dispara de novo (alguma vez terá baixado?). Os ricos são mais ricos, os pobres mais pobres, os que sempre trabalharam nada têm! Os que têm trabalhos estáveis criticam os pobres por serem pobres e culpabilizam-nos de serem preguiçosos.
A 14 do mês de Nisan, aproximadamente no ano de 1280 a.C., os hebreus fugiram da escravidão do Egito. Também os nossos portugueses, e os mais jovens do nosso concelho, têm fugido à pobreza e ao martírio do desemprego. E a escravatura? Ela continua a existir. Valendo-se da necessidade dos outros recorre-se a subterfúgios, que a própria lei permite, para uma demissão da verdadeira responsabilidade social de quem emprega. Usa-se e abusa-se do «outro», daquele que necessita do mínimo, da tal «migalha» para sobreviver. O «outro» é apenas um número, um meio que muitos usam para subir ainda mais. E o mais preocupante é o silêncio.
O silêncio que existe no mundo de hoje. O silêncio das instituições, dos agentes sociais, das organizações, das religiões… E ainda mais preocupante é a resignação e a aceitação de que o único caminho que pode construir a felicidade humana é o de transferir peso e escravidão para o próprio Homem. É pois tempo de Pessach, de passagem, de libertação. É tempo de varrer do templo os vendedores de utopias que afastam o Homem do centro gravitacional.
É Páscoa. Para alguns! Continuará o caminho do Calvário… para muitos!
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«Desassossego», opinião de César Cruz
César :
Isto sim ! É crítica, isto é realidade, não é aparência como alguns exibem à luz do dia para se legitimarem a si mesmos e aparecerem como benfeitores e promotores do bem comum…
Adeus César