:: :: MIUZELA :: :: – Como se disse nos textos anteriores, a generalidade das autarquias possui os seus símbolos heráldicos. Esses símbolos, para cada povoação são uma espécie de denominador comum a toda a comunidade. Vamos ver que comunidade é esta.
A Miuzela é uma freguesia do concelho de Almeida que, após a reforma administrativa de 2013, continuou a ser freguesia, tendo aglutinado a freguesia de Porto de Ovelha que, por sua vez englobava a sua anexa O Jardo. Com esta reforma administrativa, e no caso destas 3 localidades, a união de freguesias criada acaba por ser corresponder, do ponto de vista geográfico, às terras situadas entre o Noémi e o Côa.
A Miuzela localiza-se na encosta voltada a norte da montanha formada pelos vales daqueles dois rios. Fica voltada para Pailobo que como se sabe se localiza na outra encosta do Vale do Noémi. Não é uma terra soalheira mas curiosamente é uma terra onde sempre houve uma grande produção de vinho.
O solo é pobre principalmente nas zonas mais elevadas e o subsolo é pródigo em grandes afloramentos graníticos que por vezes rompem a superfície e se prolongam para o ar, proporcionando-nos as imagens de barrocos com dimensões muito grandes. Esses rochedos, de granito, são algo que me fascina não só pela dimensão, mas também pela forma como a natureza os colocou ali.
A população da Miuzela e da generalidade das aldeias daquela zona raiana é maioritariamente cristã e duma religiosidade por vezes exagerada. Por tudo isto, o brasão desta terra só podia ter como elementos os que dele fazem parte: rochedos, uvas e as cruzes latinas.

Os símbolos heráldicos desta localidade foram publicados no Diário da República, II série de 30 de Outubro de 2006.

Do ponto de vista da defesa do território, a Miuzela não possui quaisquer vestígios de aí ter existido castelo ou muralha. Existiu sim, na parte mais alta da povoação a que chamamos Santa Bárbara por nesse local existir ainda hoje uma ermida dedicada a Stª. Bárbara, uma torre de vigia destinada a servir de vigia avançada na época medieval.
Daquele local, da Santa Bárbara, e provavelmente da torre que lá existiu se vigiava principalmente Vilar Maior que, durante o período medieval e ate 1297 foi território pertença do reino de Leão e por isso, adversário de Portugal.
Dali se enviavam sinais de natureza militar através da vista quer para Castelo Mendo quer mesmo para o Jarmelo que acabavam por ser as duas fortalezas de maior dimensão do lado de cá do Côa.
A Miuzela no que se refere ao Município de que faz parte, Almeida, é a freguesia mais distante da sede do concelho, confinando com o Município do Sabugal.
Como a generalidade das aldeias do distrito da Guarda e em particular as dos concelhos do Sabugal e Almeida, a Miuzela tem vindo a perder população principalmente a partir de meados do século passado em face da vaga de emigração que aconteceu.

Esta freguesia, encontra-se ligada ao concelho do Sabugal por um dos mais emblemáticos monumentos medievais que muitos desconhecem. Trata-se da Ponte de Sequeiros que fazia a ligação entre o reino de Leão e Portugal numa altura em que a fronteira estava assente no leito do Rio Côa, e por isso antes do Tratado de Alcanizes.
Esta ponte, onde hoje apenas se pode passar a pé, e ainda bem, é um monumento de interesse público e por isso protegido. Não será visitado tantas vezes quantas as que a beleza do local merece provavelmente por não ter a divulgação que se justifica nos roteiros turísticos.
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«Do Côa ao Noémi», opinião de José Fernandes (Pailobo)
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