O Largo do Reduto dá-me que pensar desde há muitos anos. É uma das praças principais da terra. Terá sido o local de alguma antiga pequena fortificação? Nada que o prove. Nada que não permita reflectir sobre o tema. A verdade é que no brasão da Freguesia está inserido um cubelo. Ora reduto é fortim militar. Cubelo também. Algo une estes dois factos… Mas não sei o quê.

Se olhar para a foto em que lhe trago o brasão da minha terra, não pode deixar de ver logo aquele paralelepípedo prateado ao centro.
Cubelo é fortim pequenino. Mas é um termo próprio da arquitectura militar.
O largo a que chamamos «Reduto» ou melhor: o Reduto. Ora reduto também é fortificação militar. O que é que liga estas duas verdades?
O brasão oficial da Freguesia
Uma das fotos deste artigo mostra-lhe o brasão oficial da Freguesia. Nele se vêem várias peças desenhadas, cada uma com seu valor ou histórico ou simbólico. A sua descrição refere, ao que leio:
«Escudo de verde, um cubelo de prata lavrado, aberto e frestado de negro, entre dois picões de prata, encabados de ouro, o da dextra volvido; em contra-chefe, monte de três cômoros de ouro, movente de um pé ondado de azul e prata. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco com a legenda a negro: “CASTELEIRO “».
De todas as peças, quero chamar a sua atenção para uma: o chamado «cubelo», aquela espécie de fortim ao centro. Nunca tinha reparado nele, o cubelo. Fui procurar saber o que é que um cubelo significa em heráldica. E encontrei a informação de que se trata sempre de peça de arquitectura militar. Ora é aqui que se cruzaram na mesma noite no meu computador duas informações pertinentes e que, aparentemente, concorrem no mesmo tabuleiro, o dos resquícios militares ligados à minha terra natal. Ora nunca, que eu saiba, ninguém na terra falou de antecedentes militares, fortes, fortalezas – seja o que for do domínio das guerras. Nesse campo, só mesmo as pessoas que foram mobilizadas para combaterem na França na I Guerra Mundial e os mobilizados para a guerra em Angola, Moçambique ou Guiné, de má memória.
Agora relativamente a fortins ou construções de defesa na própria aldeia, nunca: nada.
Mas há aqui algo que foge à lógica que estou a construir sobre a ausência de referências militares na tradição oral da aldeia. A ser assim, como explicar que os autores que estudaram e desenharam o brasão e os eleitos que o aprovaram nele tenham incluído este cubelo?
Por que razão, um dos largos da terra se chama «Reduto», termo também da arquitectura militar?
Vamos, antes de mais, fixar-nos na explicação do que seja um cubelo.
Neste caso, a minha fonte é a wikipédia (com todos os seus problemas de défice de rigor, por vezes). Cubelo é o seguinte:
«Um cubelo (de cubo ou cuba), em arquitectura militar, designa um torreão de planta circular ou semi-circular, com a função de reforço de uma muralha numa cerca ou num castelo medieval.
As torres de planta circular, como também poligonal, permitiam a diversificação dos ângulos de disparo para os defensores. Além disso, as superfícies curvas eram mais propensas a desviar os projécteis disparados pelos inimigos, que tendem a resvalar na superfície dos cubelos. Nos torreões de planta quadrada ou rectangular, os cunhais (cantos) eram pontos frágeis. Outra vantagem dos cubelos era que necessitavam menos pedra para sua construção, ou seja, eram mais económicos.
Em Portugal, os cubelos tornaram-se comuns a partir do século XIV como parte do chamado castelo gótico. Foram particularmente empregados no Alentejo, onde a pedra é de consistência fraca. É possível que esse tipo de torre tenha chegado às fortificações portuguesas por influência da arquitetura militar muçulmana.
Além do uso específico como torre circular, às vezes o termo cubelo é utilizado para qualquer torre de reforço de muralhas, de qualquer planta.
Em heráldica, cubelo designa uma torre sem ameias.»
Uma nota simples, por razões de rigor: o cubelo do brasão do Casteleiro não é redondo mas sim quadrangular. Pode não significar nada ou pouco. Alguma vez terá então havido uma fortificação mesmo que rudimentar?
O Reduto
Um dos maiores largos da terra chama-se O Reduto. Ora, o que é um reduto?
«Designa-se reduto, em arquitectura militar, a uma obra de pequenas dimensões, de planta quadrangular, num baluarte ou revelim, ou por vezes fora da esplanada, mas ainda ao alcance do poder de fogo do caminho coberto da fortificação abaluartada.
Em Portugal, nas chamadas Linhas de Torres por exemplo, surge por diversas vezes isolado, ou seja, sem estar associado a um outro baluarte ou revelim.
Um reduto também pode constituir-se numa obra de aproximação dos sitiantes, apresentando geralmente quatro lados, sem flancos.»
A este propósito, fui à procura de uma terra próxima, não conhecidamente militarizada em tempos recuados, e que tivesse um reduto. Encontrei, melhor, foi-me oferecida de bandeja. É o caso da Bismula. Tinha um antigo Reduto. Sobre este resquício, hoje desaparecido, conhecemos agora, mercê de investigação de Manuel Leal Fernandes alguma variedade de opiniões com um traço aparentemente comum: terá havido o reduto, mas decaiu, deixou de ser necessário e foi demolido, talvez no século XVIII. A sua localização exacta não é conhecida. Algo de semelhante se terá um dia passado aqui no Reduto da minha aldeia? Sobre o reduto da Bismula, duas pequenas citações: sobre ele o Padre que respondeu ao Governo em 1758 disse: «…um reduto demolido com sua atalaia de redor da igreja, que servia de refúgio de tempo de guerra.»
E Joaquim Manuel Correia, em «Memórias sobre o Concelho do Sabugal», escreveu: «Antigamente existia na Bismula um reduto cujo local se ignora ou não pode já determinar-se com precisão.»
O Reduto do Casteleiro também deixou de ser necessário? Foi demolido? E ficava no largo que hoje chamamos O Reduto?
Mais uma nota: a aldeia até ao século XVIII não era tão comprida. Não: vinha da ribeira (lá em baixo, onde agora já não há casas) e terminava ali por alturas do Reduto. Ou seja: este local ficava no limite da Freguesia. Local indicado para se construir um fortim? Não se sabe.
Nota
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Abril de 2012.)
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Excelente trabalho do Zé Carlos, ao nível do que nos vem habituando…..