O definhamento da actividade económica e o despovoamento imparável das aldeias do concelho do Sabugal, compelem-nos à definição de uma estratégia de acção que evite chegar-se a uma situação sem retorno que poderá atingir-se em breve.
Na Idade Média, o termo do Sabugal constituía um couto régio, sendo território em que os habitantes estavam sob a protecção do rei, ali se asilando muitos perseguidos pela justiça – os chamados homiziados. O mesmo se passava nos concelhos de Vilar Maior e de Alfaiates, que enfermavam dos mesmos problemas.
Na época da reconquista cristã estas eram terras ermas – quase sem gente e sem a mínima organização administrativa. A carência de povo era tal que o couto, criado por D. Dinis logo após a tomada das terras de Riba Côa aos leoneses, valia para asilo de todos os criminosos, excepto dos acusados de traição e de aleivosia.
Não foi fácil repovoar estas terras, porque em 1406, um século após a criação do couto, D. João I assinou uma carta a certificá-lo, garantindo que os homiziados continuavam a poder instalar-se sem que fossem perseguidos pela justiça.
Em 1449 foi a vez do rei D. Afonso V voltar a confirmar o couto e esclarecer que os homiziados do Sabugal podiam sair do concelho em determinados dias do ano, mantendo as garantias de protecção.
Foi pois em parte à custa dessa gente que o território foi povoado, num processo que durou longos anos.
Sucede que o Sabugal está a um passo de ficar de novo terra erma, sem gente, sem actividade económica e, consequentemente, sem instituições. A já escassa população jovem foge para outras terras em busca de futuro, os negócios encerram por falta de clientes, há casas de construção recente onde os donos ausentes nunca entram e os serviços públicos encerram sucessivamente por alegada falta de utentes.
Estamos a um passo de atingir o ponto em que o retorno pode ser impossível. Chegando lá, nada mais resta do que a restituição do couto para voltarmos a ser albergue dos homiziados de hoje.
A verdade é que tem que haver soluções no quadro das políticas de desenvolvimento geradas pelo poder central e pelo poder municipal. É necessário que as pessoas competentes se interessem pelo Sabugal e que unam as mãos na busca de soluções. Temos gente capaz de fazer dessa terra um território próspero, que singre no desenvolvimento, que seja capaz de voltar a acolher os sabugalenses da diáspora, de servir de porto de abrigo aos que procuram viver novas vidas e aos que querem contribuir para o desenvolvimento de uma terra com imensas potencialidades.
É necessária uma política agregadora e apelativa à reunião dos sabugalenses na luta por uma causa comum, associada a uma postura reivindicativa por parte dos nossos autarcas. Há gente capaz de unir esforços em prol do Sabugal, no quadro de um espírito crítico.
Exige-se uma acção competente, perspicaz, proactiva e, sobretudo, corajosa. Mãos à obra.
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«Contraponto», opinião de Paulo Leitão Batista
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