Hoje, a minha aldeia é igual a tantas. Nela passa-se o mesmo fenómeno que se passa em todo o Interior: caminhada de anos e anos para a desertificação. Oxalá essa tendência possa ser invertida. Mas hoje venho aqui falar-lhe de glórias passadas; em tempos, a terra era rica: uma das mais ricas da região.

Falar aqui de glórias passadas não quero que seja nem vã glória nem passadismo. Menos ainda querer vangloriar-me! Nada disso, até porque não teria qualquer razão pessoal para isso… Mas reconhecer o que descobri e dizer-lhe a si que não só fiquei admirado como fiquei com vontade de partilhar com os leitores, isso é importante para o trabalho a que meti ombros: falar da minha aldeia com realismo, com verdade, com suavidade – mas com garra. Até porque acredito piamente que as nossas terras têm futuro.
Nesse sentido, descobri e trago-lhe aqui os números:
1.º O Casteleiro era, ao tempo do concelho de Sortelha, a mais povoada das localidades: mais do que a própria Sede do Concelho (Sortelha);
2.º A aldeia era das mais ricas na véspera da integração do Concelho do Sabugal. Lateralmente, não tinha muita gente jovem, pelo menos jovens do século masculino. E já vai ver porquê…

População residente
Ao que leio, «em 1527, o Casteleiro tinha 52 vizinhos». Muito pequenino, portanto, este «burgo». Nessa altura, recordo, penso que a aldeia não era tão extensa como agora a conhecemos. Julgo que ia do Reduto até à Ribeira.
Não haveria pois nada onde hoje é a estrada. Nada lá para cima, para os lados do Lar e bairros envolventes. Nada disso: apenas meia dúzia de casas. Eram apenas 52 os residentes: pouco mais do que uma quinta.
Mais tarde, a aldeia decuplica. Em 13 anos passa desses 52 vizinhos para algo como (atenção) 152 fogos em 1758, com mais de 500 pessoas.
E quantos habitantes?
Diz o padre da época, nas respostas ao Marquês de Pombal que «pessoas de confissão e comunhão 348, só de confissão 74 e crianças que ainda se não confessaram 103, ao todo 525 pessoas». É um crescimento inédito.
Recrutas foram 2 em 74 em 1875
Dados oficiais da época mostram que «em 1875 o concelho do Sabugal forneceu ao exército 74 recrutas». Do Casteleiro saíram nesse ano apenas 2 recrutas. Pensar-se-ia que seriam mais. Li: «Casteleiro: 842 almas: 2 (recrutas)».
Mas as restantes aldeias também não eram muito «frutuosas» em mancebos. Exemplo: a própria Sede, pouco se mostrava em matéria de recrutamento: «Sabugal: 1436 almas: 3 recrutas».
Meia dúzia de outros exemplos:
– Sortelha: 767 almas: 2 (recrutas) – menos quase 77 pessoas do que o Casteleiro. Faço notar que isto são dados de 20 anos após a integração no concelho do Sabugal;
– Águas Belas: 557 almas: 1 recruta;
– Aldeia do Bispo: 792 almas: 2 recrutas;
– Santo Estevão: 748 almas: 2.
E com mais de 1000 habitantes, as localidades são raras. Além do Sabugal, já referido, apenas as seguintes:
– Aldeia Velha: 1002 almas: 2;
– Alfaiates: 1001 almas: 2;
– Malhada: 1143 almas: 3 (surpresa, para mim);
– Nave de Haver: 1178 almas: 3;
– Vila do Touro: 1248 almas: 3 (outra surpresa).

Terra abastada
«O Casteleiro era em 1850 o maior povo do termo de Sortelha».
«O imposto que a Câmara cobrava era calculado em função da riquesa (sic) desse mesmo povo, conforme se pode ver» numa acta da Autarquia.
A data de recolha destes números que vale a pena compulsar aqui é a seguinte: 17 de Setembro de 1850. Quanto pagava cada localidade ao fisco da altura?
«Sortelha pagava: 25.400 réis,
Casteleiro: 31.900,
Mouta: 13.450,
Santo Estevão: 23.700,
Malcata: 24.200,
Aldeia: 25.800,
Aguas Belas: 22.900,
Lomba: 15.750,
Pousafoles: 30.100,
Penalobo: 17.515 e
Bendada: 25.865».
Fiquei muito surpreso com estes dados. Nunca por nunca ser me passou pela cabeça que a minha aldeia pagasse mais impostos à Câmara do que a própria Sede do Concelho, Sortelha.
E faço notar que a extinção do concelho de Sortelha e sua integração no do Sabugal iria dar-se cinco anos depois do ano que se refere esta recolha de dados. Isso iria acontecer em 1855.
Entretanto, recolhi dados também relativos à riqueza patrimonial. São números que nos dão uma ideia relativa da correlação entre as localidades, relacionando o número de habitantes com a derrama paga – dois anos depois da integração das várias freguesias e de Sortelha no «mapa» do Sabugal.
Vamos, pois, olhar para alguns dados (muito poucos, de facto, mas podia trazer aqui muitos mais). Referem-se ao número de fogos e à derrama paga no Concelho do Sabugal e relativa ao biénio de 1857-58.
Assim: Casteleiro: 210 fogos; 97.880 réis; Sortelha: 205 / 55.730; Sabugal: 287 / 106.070; Quadrazais (surpresa): 400 / 109.480; Vale de Espinho: 245 fogos / 90.650 réis.
Deslumbrante. Mas isso foi antanho. Hoje, as questões são outras…

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Nota
1. Agradeço as dicas e alguns números do companheiro «Ti Carlos do Soito».
2. Consulte todos os dias «Serra d’ Opa», gazeta regional no Facebook… (Aqui.)
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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