O ar frio que se faz sentir, recordando-nos que estamos no Inverno, vai cobrindo de alva o alto dos montes. A neve faz-nos sempre procurar a vastidão. Como se o horizonte se ajustasse, quase, à nossa vontade. E dá-nos a sensação de limpeza. Uma certa imaculidade. Olhando para o dorso da montanha, deixei que o pensamento rebolasse pela neve…

Estamos em Janeiro. A sete/oito meses das eleições legislativas. Os actores políticos procuram fazer de conta que isso é lá longe. Mas a verdade é que a política está a desenrolar-se unicamente e directamente para esse acto: as eleições. As democracias funcionam assim, dir-me-ão. E é verdade. A política é feita em função de ganhar a confianças dos eleitores no acto eleitoral. Os programas, a matriz ideológica e a «visão» para o país, são substituídos (para aqueles que os têm…) por uns folhetos semelhantes aos de uma promoção de mercearia. O vazio acerca do que se pretende como projecto para o país é confrangedor.
A actual coligação entre PSD e o CDS, será futura coligação. O CDS não tem outra hipótese senão colar-se ao PSD. Deixou-se enredar por este PSD. O CDS se for sozinho a eleições é reduzido ao «partido do táxi», como já o foi outrora. Por mais que Portas tente sobressair, marcando diferenças, o partido, e ele próprio, estão amarrados a estas políticas e a este PSD. O PSD, sabe que tem as eleições pedidas. O trabalho de procurar perder por poucos está entregue ao governo. E este é o que tem feito. De forma suave, fazendo crer que não o está a fazer. O PSD está, a maior parte das vezes, calado e a leste dos acontecimentos. Excluo, claro, os comentadores oficiais. Esses até adivinham os acontecimentos! Portanto, para o PSD, a coligação interessa-lhe, sobretudo, para um somatório de votos (deputados) e, também, porque esvazia o espaço à sua direita. Coligado, o PSD, acrescenta e controla a sua direita. O CDS está num dilema. Se concorrer sozinho, corre o risco de perder alguma influência. Coligando-se, a sua autonomia e independência dilui-se no seio do partido maior.
O PS, confiando que a vitória está garantida, vai deixando correr o marfim.
Dessa forma, entendendo a estratégia, vai adiando apresentação de uma linha de governo. Há áreas em que é necessário, atempadamente, ir colocando no terreno as ideias. Não é isso que acontece. O PS procura estar sozinho no acto eleitoral, não deixando de piscar o olho às formações politicas à sua esquerda. Entende-se. Primeiro porque, antevê a vitória a solo (por isso vem pedindo a maioria absoluta) e, segundo, porque não se sabe o que valem, eleitoralmente, essas novas formações.
O PCP (ou a CDU), não variará muito do que tem sido. Manter-se-á fiel à sua matriz, da mesma forma que o seu eleitorado.
O BE enfrentará as consequências da confusão em que se deixou envolver internamente. A tendência de perda de eleitorado das últimas eleições irá manter-se. Penso que será a formação partidária, juntamente com o CDS se for sozinho, que mais irá perder.
Depois, temos a incógnita do partido de Marinho Pinto. E digo de Marinho Pinto porque não sabemos o que vale o partido, visto que é a primeira vez que vai a eleições. Mas valerá Marinho Pinto nas legislativas o que valeu nas europeias? As minhas dúvidas.
As outras formações partidárias, muitas delas não têm expressão significativa, contudo, há a expectativa, de saber o que valem algumas destas novas formações políticas. Será aqui que estará o maior interesse das próximas legislativas. Quanto ao resto tudo está, demasiado, igual.
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«A Quinta Quina», opinião de Fernando Lopes
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