O empreendedorismo é mais do que um instrumento para ultrapassar situações de desemprego ou de emprego precário – ele é sobretudo uma estratégia para alavancar a economia, dentro do processo de destruição criativa teorizado pelo economista austríaco Joseph Schumpeter.
Mas o que é afinal o empreendedorismo? A melhor definição, das muitas que estão ao dispor, é a que o dá como o processo de criação e desenvolvimento de negócios inovadores essenciais para o crescimento de uma economia.
Empreendedor é pois todo aquele que inova, que cria e desenvolve novas ideias, preferencialmente numa base tecnológica. Ora inovar e empreender não é uma característica inata, que nasce com predestinados para o mundo dos negócios, como por vezes somos levados a crer. O empreendedorismo também se aprende, desde que se ultrapasse o medo de assumir o risco e de lidar com o insucesso. Sim, pode não ser fácil, mas o primeiro passo para que um jovem se dedique à actividade empresarial é ultrapassar o estigma do insucesso.
Aprender a inovar passa por saber dominar o processo da criatividade, de ser capaz de seleccionar ideias, aprofundá-las e, sobretudo, coloca-las em prática superando as dificuldades.
A depauperada economia das terras do interior precisa de um choque, e ele pode vir da área vital da inovação tecnológica. Mas para que isso suceda é necessário o apoio das empresas existentes, que para sobreviverem precisam de novos rumos, e também das autarquias, que precisam de valorizar os seus territórios. São pois as empresas e as autarquias, com o apoio indispensável do Estado, que poderão colocar ao dispor da economia local os meios essenciais para o desenvolvimento por via da criatividade e da inovação.
Para desenvolver um programa de empreendedorismo não basta trazer professores de Lisboa para ensinarem os jovens do Sabugal a inovar e a lidar com o risco. O plano tem de ir mais longe. Ele tem que garantir os meios para a acção nos sectores chave, tem de disponibilizar a tecnologia essencial para a implementação de projectos inovadores, tem que dar aos jovens o suporte em termos de estrutura e equipamento básico para o desenvolvimento de projectos empresariais.
Uma acção essencial, da qual tudo depende, é resolver de uma vez o problema da falta de sinal de comunicação de redes móveis e de internet no concelho – o que fez a Câmara por isso?
Outra questão chave é lutar por manter no concelho serviços públicos de proximidade. Onde está a educação, a saúde, a segurança e a justiça no concelho? Deixam encerrar as escolas sem um mínimo de protesto e de indignação, permitem o fim das extensões de saúde, aceitam o desaparecimento de freguesias, encolhem os ombros ao fim do tribunal. Como se podem assim fomentar os negócios – ou melhor, como convencer alguém a instalar uma empresa privada num território que o próprio Estado está a abandonar?
Resta ao interior a junção de sinergias para inovar e empreender e assim rumar contra a maré que nos arrasta para o abismo. Há universidades no interior, há empresas de base tecnológica – porque não criar em local estratégico, que bem pode ser o concelho do Sabugal, um parque tecnológico ou um polo empresarial voltado para a investigação e para a inovação, beneficiando do apoio de professores e cientistas?
É pensar muito alto? É querer o impossível? Julgo que não, e há espaço para uma nova política se os actores do território a quiserem abraçar.
Pode-se tirar partido da localização geográfica do concelho (perto de Espanha e equidistante da Guarda e da Covilhã), das boas condições infra-estruturais (boa rede viária intra-concelhia, saneamento básico, extensa rede de electrificação, imensos equipamentos sociais), para além de um território com inúmeros recursos por explorar (tradições únicas, riqueza monumental e natural, condições para a pecuária, abundância de água, de vento e de sol – recursos naturais para a produção de energia). Somos além do mais uma região que tem um potencial na sua diáspora – nos muitos filhos da terra que estão longe e que poderão regressar face a um apelo, a um sinal claro de aposta no desenvolvimento efectivo baseado na criação de oportunidades de futuro.
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«Contraponto», opinião de Paulo Leitão Batista
Caro Paulo Batista.
O modelo, ou melhor, as ideias orientadoras expostas são sem dúvidas, mais simples. mais baratas e mais eficientes do que a compra de programas estratégicos no exterior. Só que comprar um Kit de empreendedorismo é mais cómodo e também muito mais útil para a opacidade do sistema político que nos vai sendo imposto. No fundo, não tem que se ouvir ninguém da terra porque esses não sabem nada e é mais chique ouvir uns “papagaios estrangeirados” com a lição bem estudada. Mas os papagaios não inovam, unicamente repetem palavras que na maior parte das vezes não se adaptam às circunstâncias.
Mas o chavão de que a vontade do povo manifestada nas urnas tem que se respeitar serve para muita coisa, mas Hitler também foi eleito ….