Dois temas para hoje: os povos que habitaram esta zona desde há talvez três mil anos e as Águas Radium de que tanto se falou na semana que passou. Os celtas e os celtiberos andaram por aqui. Os restos de castros atestam-no. Mas não só: também algumas tradições e medos, algumas formas de estar e de ser das nossas gentes e alguma idiossincrasia palpável aqui e ali. Vamos estudar isso? Por outra parte, a Serra da Pena, o hotel, as termas, as águas da nossa zona – não é matéria nova, mas introduzi, por arrasto, a questão de se saber se a Serra da Pena devia ou não pertencer ao Casteleiro. Mas o melhor mesmo é ler o que aí fica escrito…

A mística céltica anda por aqui na nossa zona. O modo de ser e de se relacionar com o Universo traz algumas semelhanças em relação ao que alguns autores escreveram acerca dos celtas e algumas investigações a isso conduzem.
A Serra da Pena devia ser território da freguesia do Casteleiro?
São os dois temas que vai poder «espiolhar» adiante.
Pastorícia e castros
Os Celtas tinham vindo do Norte, os Iberos do Sul (talvez de África). Do seu encontro resultam as misturas: os celtiberos.
Procuravam as terras altas para aí construírem as suas casas.
Vejam no mapa qual a zona por eles ocupados.
Na Serra d’ Opa há vestígios claros de castros. Sortelha Velha (assim chamada pelos Arqueólogos sabe-se lá porquê) é o caso mais evidente. Os celtiberos viviam em castros.
Todos os utensílios da nossa agricultura antiga são cópia dos que os celtas trouxeram: foice, enxada de pedra, arado de madeira, mó manual, roda. As actividades andam lá perto: cestaria, olaria/cerâmica, tecelagem.
Ferro e bronze eram materiais deles conhecidos.
«Uma dessas tribos de Celtiberos era a dos Lusitanos que habitavam a Lusitânia».
Mística céltica

A nossa zona está indiscutivelmente imbuída de ideias e de maneiras de ser que têm muito a ver com os celtiberos (mistura de celtas com povos locais, os iberos, com várias tribos – uma das quais, os Lusitanos).
Concluo que somos descendentes de celtiberos também, pese embora a grande dose de misturas com gentes vindas de outras paragens – quer na antiguidade quer em épocas mais recentes.
E há muitos indícios que me levam a crer que o modo de estar e de ser dos nossos conterrâneos e nosso se assemelham com o que se vai lendo sobre os celtas, os iberos, os lusitanos e os celtiberos – todos eles povos que um dia habitaram estas paragens e num período complicado, apanhados pelas invasões romanas acabariam por se unir na luta e rechaçar o gigantesco poderio romano.
Se calhar, o respeito quase religioso das nossas gentes pela Natureza, pelo triângulo Terra Paraíso Inferno ou a permanente referência ao Som, e à Lua e a avaliação da meteorologia e sua previsão por recurso ao ciclo lunar-solar – se calhar, tudo isso tem mais de celta do que se poderia pensar.
Ao que leio, os celtas eram «despreocupados, livres e alegres». Disso, poderá ter ficado o recorrente uso do sarcasmo nas conversas, a conversa bonacheirona e torcida que se usa por norma no Casteleiro (e em toda a nossa zona), bem como a grande quantidade de pessoas com discurso e conversa brincalhona – mesmo e sobretudo no meio das agruras da sua vida diária que não era para brincar…
Ora tudo isso parece que se encontrava na mentalidade céltica.

Religião e culto dos mortos
Resumindo: há indícios ainda hoje de que é dali que todos vimos.
Um desses indícios tem a ver com o 1 de Novembro (dia dos Santos) e 2 de Novembro (dia dos mortos).
Leio que para os celtas o 1 Novembro era o «ponto de contacto privilegiados com o mundo dos desaparecidos» – por exemplo.
O «Outro Mundo» é a saída para as gentes da nossa zona. Também os Celtas se focavam nesse «Outro Mundo» – embora de modo mais elaborado e poético: «O seu destino pessoal numa batalha deixava-os indiferentes. Nada se perfilava no horizonte da sua passagem pela Terra. Uma outra vida feliz, sem inferno nem purgatório, os esperava no Outro Mundo».
E é sabido que os celtas acreditavam já muito antes do Cristianismo na vida após a morte. A esse propósito, li, por exemplo, que «Os celtas muniam seus mortos de armas e outros pertences, o que indica que acreditavam na vida após a morte».
Natureza e bruxaria
Mais um exemplo de uma zona de obsessão local: a Natureza dominante. «Um dos fatos mais interessantes na cultura celta era a afinidade com a natureza, os celtas realizavam a contagem dos dias através do nascer e do por do sol». E ainda: «A natureza era a companhia do homem primitivo. Ela fornecia abrigo e alimento e, em retorno, a humanidade a reverenciava. As religiões primitivas louvavam as pedras e montanhas, os campos e florestas, os rios e oceanos».
…Tal e qual como no Casteleiro e por toda a região.
Outra área de coincidência: a fixação e obsessão com as bruxas, as bruxarias, os bruxedos.

Serra da Pena
Isto já vai longo. Por isso, apenas uma notita sobre a Serra da Pena.
Apenas para lhe dizer que este local, onde depois foi construído o hotel termal pelo conde espanhol, se chamava «Chão da Pena» e era propriedade do Morgadio de Santo Amaro, a quem o magnata espanhol o comprou… (Aqui.)
Assim sendo, não tenho qualquer dúvida em raciocinar assim:
– Santo Amaro pertencia à Freguesia do Casteleiro;
– Portanto, em princípio – embora sem garantia absoluta – o Chão da Pena também pertenceria nessa altura à Freguesia do Casteleiro.
O que poderá então ter levado à sua inclusão em Sortelha?
Num próximo artigo voltaremos a este assunto e vou incluir aqui muito mais informação sobre a Serra da Pena – depois da reportagem da SIC vale a pena conhecer pormenores que não cabem na televisão.
Notas
1 – Na segunda-feira de manhã, fiquei mais uma vez muito vaidoso: é que, em 12 linhas do «Capeia», 6 delas falavam da minha terra. É um exagero, mas era assim… Pode confirmar… (Aqui.)
2 – Indiscutivelmente, a semana passada foi dedicada à Serra da Pena, por iniciativa da SIC, esteve na berra em termos regionais. Foi bom. Gostei. Só foi é pouca coisa…
3 – Consulte todos os dias «Serra d’ Opa», gazeta regional: no Facebook… (Aqui.)
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
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