Este frio que agora chega, como se fosse algo de novo, faz-nos regressar à realidade da época. Estamos em Dezembro, o mês em que chega o Inverno, o frio, o Natal. E, não fossem as novelas que se desenrolam simultaneamente, estaríamos aqui a falar da época natalícia. E talvez, por instantes, fossemos capazes de esquecer as agruras que a vida nos acarreta, numa espécie de limbo festivo. Sim. Seria o tempo da bondade demonstrada, pública e, de preferência, reconhecida. O Natal tem destas coisas. Amolece os corações.
Mas as novelas, uma com Sócrates, com epicentro em Évora. E outra com a comissão de inquérito ao caso BES. Diariamente, estas duas novelas, ocupam os blocos noticiosos e capas de jornais. No caso de Sócrates, é impressionante, os documentos que aparecem publicamente. Dando, quase a ideia que o trabalho da investigação é feito pelos jornalistas e não pela polícia. Num episódio após episódio, num julgamento em praça pública.
Não sei, nem é esse o meu interesse, se é estratégia de Sócrates este esgrimir argumentos através dos jornais. Não quero saber da forma de carpir, mas incomoda-me a facilidade com que aparecem documentos publicamente, acredito que relevantes, de uma investigação que se presume em segredo de justiça.
Quanto à «acção» da novela, ela desenrola-se num pavoneamento, quase que reverencial, das personalidades que se deslocam à cadeia de Évora. Compreendo o sentido moral da amizade. E respeito o sentimento pessoal de cada um. O que me custa mais aceitar é a facilidade com que se prestam declarações. E muitas delas de cariz político. Parecia-me mais adequado algum recato. Parece-me claro que deve a justiça pronunciar-se. A política deveria estar arredada deste enredo. Até por questões de haver eleições. Não vão ser os amigos a ditar o veredicto a Sócrates. E a política já o julgou nas últimas eleições.
Quanto à comissão de inquérito ao caso BES, a novela desenrola-se à volta da família Espírito Santo. Em que cada um dos membros da família vai empurrando a responsabilidade uns para os outros. Até aqui, nada de anormal. É o enredo comum das novelas. Mas o que esta comissão vem demonstrar é que em todas elas se transformam, não na procura objectiva da verdade, mas para manejar argumentos politiqueiros. Da parte da maioria procura-se ilibar quallquer responsabilidade do governo, da parte da oposição procurar provar essa responsabilidade. Não importa aos deputados – todos eles – que o que importa é que eles procurem desvendar a verdade. Houve responsabilidade do governo no caso BES? O Banco de Portugal cumpriu o seu papel? E a CMCM? E os responsáveis do BES? A resposta inequivoca a estas questões são essenciais para a credibilidade das comissões parlamentares. Mas desconfio que a conclusão será a do costume. Inconclusivo.
Bom, entre estas novelas houve direito a mais uma tirada gastronómica do primeiro-ministro (da outra vez, referindo-se à educação, falou de salsichas). Disse ele que, desta vez, não foi o mexilhão que pagou as favas (referindo-se a quem, na sociedade portuguesa, tinha sofrido com a austeridade). Da «cozinha» do primeiro-ministro a realidade é bem diferente! Em Portugal, na sua legislatura, aumentou o número de ricos e aumentou o número de pobres. Arruinou a classe média. Destruiu mais de 400 000 postos de trabalho. O desemprego disparou, mesmo que venham com a estatística da diminuição do número de desempregados, não passa de uma falácia. Pois esta diminuição corresponde aos estágios criados pelo governo.
O número de portugueses a abandonar o país aumenta e por aí fora… E não foi o mexilhão que se lixou? Ou confundirá, o primeiro.ministro, mexilhão com lavagante ou lagosta?
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«A Quinta Quina», opinião de Fernando Lopes
Fernando :
Tu falas em novelas, e muito bem, porque o poder é sempre uma máscara e um teatro, seja com quem for, e onde for.
Quanto às « bocas » políticas que mandam os que vão visitar José Sócrates, os partidários dele, isso tem um nome : sectarismo, é este maldito sectarismo, de todos os partidos, que leva a um empobrecimento moral e intelectual da vida dos portugueses, é esse sectarismo que envenena a nossa convivência cívica, mas enfim…Enquanto se andar a gritar na Praça Pública, e nos órgãos de comunicação social, que os nossos são os melhores e os outros não valem nada, e que se ganharmos as eleições tudo irá de bem a melhor, e que se as perdermos tudo irá de mal a pior, não passaremos de um Povo sem rumo, temos de pensar pela nossa cabeça, não pela de um oportunista qualquer !
Adeus Fernando.