O Município de Almeida, cumprindo o seu dever, colocou na internet a versão de setembro de 2014 do Plano Estratégico de Desenvolvimento da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela, documento fundamental também para o Concelho do Sabugal.
Embora não sendo o documento final, importa desde já apresentar os 11 projetos âncora que constam deste Plano, abordando-os, sobretudo, na ótica da sua importância para o desenvolvimento do nosso Concelho.
Na verdade, e embora não ignore que o desenvolvimento do Sabugal só será sustentável numa lógica sub-regional, interessa perceber se os projetos apresentados não contribuem para agravar os fenómenos de exclusão territorial e de encravamento geográfico a que o passado recente nos conduziu.
PROJETOS-ÂNCORA
1. Criação da A3I (Agência para o Investimento, Inovação e Internacionalização)
Compreendendo que uma Agência como a proposta deverá ter a sua sede na Guarda ou na Covilhã, a mesma vai concretizar-se num conjunto de valências – Observatório de Empresas e de Produtores; Centro de formalidades; Centro low cost para registo de patentes; Centros de Excelência sectoriais.
Qual a estratégia que vai ser seguida? (i) Concentração destas valências num único local?, ou (ii) Entendimento de que a A3I deverá funcionar em rede territorial, com localização de diferentes valências em diferentes Concelhos, privilegiando uma lógica de inclusão territorial, e contrariando assim dinâmicas de desertificação e despovoamento de territórios de baixa densidade?
2. Agenda para a Inovação através de Living Labs Regionais da Beira Interior Norte, da Cova da Beira e da Serra da Estrela
O Plano em análise é parco em definir o que serão os living labs da Beira Interior Norte e da Serra da Estrela, dado que o da Cova da Beira já existe e está localizado no Fundão.
Este living lab promovido pelo Município em parceria com empresas, universidades, banca e instituições públicas e privadas, pretende criar um ecossistema de comunidades e serviços e inclui a disponibilização de espaços de incubação de empresas e de novos projetos de empreendedorismo em espaços de trabalho partilhado, a criação de laboratórios de prototipagem, a disponibilização de casas-oficina na Zona Antiga do Fundão e nas Aldeias Históricas e do Xisto, o funcionamento de centros de formação e de escolas adaptadas à realidade local, o estabelecimento de polos de investigação e desenvolvimento de produtos na área da saúde e a internacionalização de produtos e empreendedores.
Ideia interessante, mas que não pode ter um âmbito meramente concelhio, devendo, os novos living lab propostos, ter uma abrangência territorial maior, colocando-se a mesma questão que no projeto anterior, isto é, deve funcionar em rede territorial, com localização de diferentes valências em diferentes Concelhos.
3. Criação de uma incubadora para a revitalização económica
O projeto parece desenvolver-se em torno da reabilitação urbana, o que me parece claramente redutor no quer diz respeito à capacidade de processos de reabilitação urbana serem fundamentais (logo âncora/incubadora), por si só, para a revitalização económica.
Por outro lado, o Plano enumera ideias como a criação de bolsas de arrendamento, de promoção de segunda residência, de dinamização turística, através de segmento bed & breakfast, hostel ou city break, de urbanismo comercial, de dinamização do segmento de escritórios, e de promoção do segmento residencial para estudantes, professores e investigadores, o que aponta, de imediato, para a Guarda, Covilhã, e talvez Fundão, numa ótica clara de menor inclusão territorial.
Na próxima crónica continuarei a apresentação dos restantes projetos-âncora.
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ps. Ouço de novo um dos melhores discos da música portuguesa do século XX: «O rapaz do trapézio voador» dos Rádio Macau, editado em 1989. A voz dura de Xana e a guitarra de Flack num dos retratos mais impiedosos que se podem obter da solidão, mas também da inquietação urbanas dos fins do século passado.
Continuando a minha leitura dos contos de Thomas Mann, aconselho a leitura de um outro livro magnífico, de um escritor inglês do século XIX, Thomas Hardy, «Judas, o Obscuro», mais um livro que devo ao sr. Prata da Biblioteca Itinerante da Gulbenkian.
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«Sabugal Melhor», opinião de Ramiro Matos
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Setembro de 2007)
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